Perdi-me num dia de chuva
Hoje chove, e quero acreditar que eu já fui eu. Todavia, sinto que não o sou mais, e que realmente não o devia ser.
Encontro-me constantemente distraído com o facto de - e vejo-me incessantemente inválido com o sentimento de - estar sozinho, vazio.
Caminho com os pés, se bem que, às vezes, gostaria de saber andar com as mãos. Canso-me de vaguear. Não consigo largar a contundente ideia de que percorro caminhos que não reconheço, de que não sei para onde vou; de que não sou quem eu devia ser, ou ainda, quem eu gostaria que fosse.
Mais nada, ou nada muito pouco, me satisfaz. As minhas roupas já me pesam, de tão molhadas. As pessoas correm, fogem da chuva caprichosa que cai aos prantos. Umas escorregam, e outras chegam até a se estatelar. Eu mantenho-me em pé, estático como uma árvore, a absorver a água.