De Ser Mulher...
Me desculpe, “Senhor”! Trago manias de sentir tão antigas quanto à existência da primeira de mulher que habitou a Terra. São manias de servir, intuir, amar, doar e viver por anos no anonimato, permitindo que você pensasse ser o mais forte. Ser coadjuvante exercendo o papel principal, é algo em que me especializei. Permiti que os fatos históricos fossem contados e me dispus a observar, de maneira que vossa senhoria figurasse como o primeiro e mais importante. Ofereci a impressão de que estava atrás, de que as decisões eram todas suas, de que tu sustentavas o eixo de uma engrenagem que sempre exigia mais do que força física e razão. Pura impressão...
Quando resolvi não mais ficar na posição de alguém que espera ser salva, porque na verdade o lenitivo comigo estava. Gritei, lutei, fui para as ruas e, o silêncio do conformismo (na verdade, expresso nas lutas de inúmeras mulheres que construíram a história) foi trocado pelo desejo de igualdade. Era somente isso que desejava. Nunca deixaria de ser sensível, de ser mulher, essa é a minha essência, mas precisava ocupar o papel que sempre me pertenceu. Assim, antes agredida em silêncio e por “legítima defesa da honra”, passei a ser denegrida e violentada publicamente.
A pergunta era: Vocês não queriam igualdade?
Sim, era tudo que queríamos, é tudo que queremos. E quando vejo a notícia de mulheres brutalmente assassinadas, mulheres adoecendo por exercerem várias jornadas de trabalho; vendo, ouvindo e sentindo o descaso e o desrespeito que ainda reina nas letras das canções, nos anúncios e propagandas, na ditadura da beleza, nos comentários desumanos... penso que ainda estamos longe de ser tratados como iguais.
Mas, lutamos e lutaremos... essa é a nossa sina. Sorte de quem crê, de quem vive de sonhos, de quem aprendeu a resignar-se esperando o momento exato para intervir. Eis o momento! E não se assuste, não é o seu papel que queremos. Compete-nos o nosso!