Deixo pedaços de mim por onde passo
Sufoquei todas as palavras que deveriam serem entregues, engoli em seco quando meu coração despencou em busca de sentido, enfiei com força o dedo na ferida na tentativa de que ela não sangrasse tão abertamente, juntei as mãos a boca e abafei o eco que escapava da minha alma enquanto as lágrimas rolavam pele a baixo. Doeu, na verdade, não teve se quer um segundo em que não doesse tanto, desejei a morte, pedi aos céus e a algum suposto Deus, o qual nessas alturas eu já não mais acreditava (como alguém pode existir e assistir a tamanho sofrimento), para que fizesse parar, para que a dor e o sofrimento cessassem, mas o céu e todo o cosmo pareciam terem me esquecido também. Ninguém entende, ninguém vê ou senti dentro de mim, ninguém percebe como a escuridão me apavora e como tudo soa clichê e dramático, enquanto tudo que eu ouço é "isso é uma fase ruim", mas eu já perdi as contas de quantas fases ruins eu tive que enfrentar. Me sinto cansada, me sinto prestes a desistir, algo em mim doe e eu não posso ficar e observar meu corpo me destruir. Deixo pedaços de mim por onde passo, tropeçando entre um soluço e outro, de pouquinho em pouquinho eu me desfaço de mim e de tudo que dilacera e faz doer. No fim desse percurso não sei se de mim restará alguma coisa, talvez esse seja o real sentido, talvez quando não haver mais matéria tudo faça sentido.