Basílides e as contradições da crença
Deus criou tudo que há de bom. O diabo era bom quando deus criou ele, mas depois ficou ruim. Deus não teve culpa. Não teve culpa também de o diabo criar tudo que há de ruim em cima das coisas boas que ele, deus, tinha criado antes. Porque sua onipotência não podia evitar isso, e sua onisciência não podia saber, e sua onipresença não estava nem aí.
Contradictio in adiecto... nem mesmo um deus ex machina salvaria essa narrativa.
Foi o que Basílides, o gnóstico alexandrino, percebeu ao procurar consertar esse enredo falho com a ideia de um deus que cria a estrutura do universo e depois se ausenta, deixando um arconte, chamado de demiurgo, no comando de sua criação. Incompetente administradora, essa entidade que seria responsável pelo desenvolvimento subsequente do mundo só fez cagada, ferrando com todo o trabalho perfeito de Abraxas (o tal deus ausente). Isso explicaria a constante decomposição do mundo, resultado da gestão catastrófica desse demiurgo filho da mãe.
Só que isso também não faz sentido algum.