Café português
Tens um sabor amargo, o teu cheiro preenche-me os pulmões. Aqueces-me abundantemente, fazes-me sentir em casa, de volta à terra por onde cresci. A tua cor negra lembra-me das mumuílas, de pele bem cuidada, lá de Luanda. Lá não somos muito de café, és mais bebida para o frio; preferimos o chá, que é mais leve, mantém-nos sossegados.
Bebo-te porque é o que fazem por aqui, parece-me que lhes sejas de importância, és grande amigo dos portugueses.
Não te incomoda quando abraço a caneca com os meus dedos gelados? Tenho a sensação que não, a tua temperatura continua a mesma.
És pouco conversador, preferes ouvir-me a tagarelar. Pareces-me um infeliz solitário.
As tuas últimas gotas, aquilo que sobra de ti, sabem à desilusão, esperava mais do que um final igualmente amaricante e desencantador.
Agradeço-te pela companhia esta manhã e num movimento gracioso levanto-me, abandonando-te friamente à beira da mesa, porta afora.