Café português

Tens um sabor amargo, o teu cheiro preenche-me os pulmões. Aqueces-me abundantemente, fazes-me sentir em casa, de volta à terra por onde cresci. A tua cor negra lembra-me das mumuílas, de pele bem cuidada, lá de Luanda. Lá não somos muito de café, és mais bebida para o frio; preferimos o chá, que é mais leve, mantém-nos sossegados.

Bebo-te porque é o que fazem por aqui, parece-me que lhes sejas de importância, és grande amigo dos portugueses.

Não te incomoda quando abraço a caneca com os meus dedos gelados? Tenho a sensação que não, a tua temperatura continua a mesma.

És pouco conversador, preferes ouvir-me a tagarelar. Pareces-me um infeliz solitário.

As tuas últimas gotas, aquilo que sobra de ti, sabem à desilusão, esperava mais do que um final igualmente amaricante e desencantador.

Agradeço-te pela companhia esta manhã e num movimento gracioso levanto-me, abandonando-te friamente à beira da mesa, porta afora.

Kiary Cardoso
Enviado por Kiary Cardoso em 27/02/2019
Reeditado em 14/03/2019
Código do texto: T6585901
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