O TRIBUNAL DA CONSCIÊNCIA

Na infância, na adolescência e até a conclusão da fase acadêmica, de um modo geral, a nossa vida ainda não adentrou no mercado competitivo, onde prevalecem os interesses pecuniários, e outros interesses relativos às características intrínsecas do ser humano, que repousam na cobiça, no orgulho, na inveja e na ira. É o melhor período da vida, e lá no final da estrada, recordaremos dessa fase com muita saudade.

Na fase adulta, já no “campo de batalha”, cada um a seu modo, com as suas tábuas individuais de valores éticos e morais, vamos aprendendo a lutar pelos nossos objetivos, assimilando as consequências das disputas, cuidando dos ferimentos e estruturando o nosso código pessoal de comportamento diante das nossas circunstâncias. Como não somos iguais, pois somos indivíduos, cada um vai escrevendo a sua própria história, ou melhor, sendo escrito na sua própria história.

Todos nós somos tripolares, e hospedeiros de três espíritos que nos acompanham até o fim da nossa jornada: o espírito da nossa natureza, o espírito da nossa inclinação para o bem, e o espírito da nossa inclinação para o mal. Na fase da nossa infância esses espíritos permanecem inoperantes, aguardando o momento de iniciarem as disputas pela nossa preferência, e esse momento começa já na adolescência. Contudo, devido à inexorável evolução, atualmente, já na fase da infância o espírito maligno está atuando, daí a necessidade da redução da idade sujeita às leis penais. Na trajetória das suas disputas, invariavelmente, nós alternamos a nossa preferência entre os três, que também se revezam no posto de “gerente” da nossa hospedaria.

Ao mesmo tempo em que se desenvolvem as nossas potencialidades racionais, também se desenvolvem as nossas potencialidades espirituais, nas suas três modalidades. As pessoas nitidamente voltadas para a acumulação de riquezas do mundo material, mesmo com bons procedimentos, estão sob a gerência do seu espírito natural, assim como os outros dois estão respectivamente no comando, quando as opções do hospedeiro estão sincronizadas com o bem ou com o mal. Pode ocorrer a aliança entre o espírito natural com o espírito do mal, enquanto que o espírito do bem não faz alianças de forma alguma.

O ser humano, além da inteligência, possui a sua consciência, um verdadeiro tribunal interno, independente, que o obriga a perceber com qual dos três espíritos está agindo em todas as suas circunstâncias, mesmo quando a sua inteligência deriva para a astúcia tentando se evadir da pressão do tribunal da sua consciência. Nessa derivação, ele se utiliza da astúcia para camuflar as suas verdadeiras intenções e agir conforme os seus interesses ou conveniências, tanto no campo racional como no espiritual, naquele tentando ludibriar seus semelhantes, neste tentando enganar o próprio Deus.

Na racionalidade, as ardilosas manobras do ser humano estão por toda parte, numa incalculável variedade de procedimentos, e na espiritualidade essas manobras são mais restritas e ocultas no interior do ser humano. Uma delas é comparecer regularmente nos cultos aos sábados e domingos, e nos eventos da denominação teológica a que se filiou, e de segunda a sexta feira, o retorno ao festival das malandragens em uma infinidade de variedades, tornando-se um procedimento padronizado que se repete até o final da vida. Curiosamente, esse tipo de “cristão histórico” acredita que a frequência regular às reuniões da sua denominação teológica é o seu “alvará da salvação”, que lhe permite cometer todo tipo de ilicitude durante a semana, pois Deus é misericordioso, e também repete o seu perdão a cada visita do “cristão histórico” às solenidades da sua “igreja”. É verdade que entre esses “cristãos” dependentes dessas “igrejas” existem também as “ovelhas” humildes e de boa fé, (o prato preferido das denominações) que são iludidas com facilidade pelos mercenários sofistas, mas estes cristãos, certamente obterão a Graça do Senhor, como se pode notar: Jonas 4;11- E Eu, será que não vou ter misericórdia de Nínive, esta cidade enorme, onde moram mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem distinguir a mão direita da mão esquerda?

Outro tipo de manobra é a do “pregador” que se investe dessa função por sua própria conta, sem que esteja revestido da competente unção espiritual conforme (Hebreus 5;4), e há pouco tempo atrás, observamos o caso de um agnóstico que foi “pregador” (de ilusões) durante algumas décadas em uma determinada denominação teológica, (supermercado da fé) até que o próprio tribunal da sua consciência o expulsou da suposta função exercida irregularmente. No entanto, ele não teve coragem de assumir o seu agnosticismo e procurou substituir o conforto perdido na denominação, onde exibia o sofisma espiritual, pelo exercício do sofisma racional, onde fica “em cima do muro” para salvar as aparências perante a comunidade que sempre iludiu por tão longo tempo.

O tribunal da própria consciência é implacável, não se submete a manobras ou mesmo a subterfúgios sutis, para obter acordos com o espírito do bem. A Graça é a única fonte de onde jorra a paz de espírito que inunda a consciência, e ela é uma concessão Daquele que nunca erra nas suas escolhas: seja quanto ao agente, seja quanto aos seus frutos.

Durante a “batalha” interna entre os três espíritos, o ser humano sente os seus efeitos, conforme a alternância do comando deles sobre as suas atitudes e o seu comportamento, daí advindas a angústia, a ansiedade e a instabilidade emocional, mas quando um dos espíritos assume definitivamente o comando da hospedaria, cessa a batalha interna, pois o ser humano assume as características do espírito vencedor, tornando-se ou um materialista convicto, ou um malvado insensível e cruel, ou uma pessoa muito bondosa e amável tanto no seu círculo familiar como na sociedade como um todo. Isso explica a marcante diferença que existe entre as pessoas e a profundidade do seu comportamento, que produz cenários horrorosos e estarrecedores, ou sublimes na plenitude do amor.

A história da humanidade, pelos diversos ângulos de observação, infelizmente nos indica um resultado desfavorável, pois a junção do espírito da nossa natureza com o espírito da nossa inclinação para o mal, (a besta que vem da terra e a besta que vem do mar) forma dois terços (66,6%), na luta com o espírito da inclinação para o bem, que representa apenas um terço (33,3%) da humanidade (Zacarias 13,8,9) (Apocalipse 13;18), indicando-nos que a quantidade do joio é o dobro da quantidade de trigo.

É evidente que a tri-polaridade, que é geral, não isenta ninguém da sua responsabilidade quanto aos seus procedimentos, mesmo porque o joio e o trigo já se encontram definidos, desde antes da fundação do nosso mundo (o Terceiro Princípio) e ambos são imutáveis, ou seja, o joio nunca será trigo, e o trigo jamais será joio. Eles podem permanecer ocultos ou camuflados pelas circunstâncias, mas a qualquer momento, compulsoriamente, mostrarão a sua verdadeira face. (Apocalipse 3;15,16) São apenas “surpresas” previsíveis, da mesma forma como o destino da humanidade. Quem viver verá.