A VERDADE COMO ARDIL DO INTELECTO

As urgências de nossas palavras, o prazer de dizer ou repetir enunciados que nos sequestram em metalinguagem, é a manifestação concreta da sedução da Verdade. Essa grandeza arcaica que ainda hoje nos alucina através do intelecto, do poder de dizer as coisas e inventar significados, origens, princípios e normas. Nenhuma outra habilidade humana afastou tanto a espécie do seu curso natural de vivente, da condição de mero participante do ecossistema planetário e expressão complexa do grande acidente de suas formas de vida, do que o intelecto e suas maquinações infernais, sua manipulação ardilosa da linguagem, que sempre seduz os fracos de ouvido. A Verdade é o veneno mais perverso do intelecto, essa virtude dos fracos, pois nos tornou todos escravos da mistificação dos saberes, dos imperativos e modelos perfeitos de uma suposta realidade mais verdadeira do aquela que nos decora os dias.

O prazer de dizer é um vício, uma substancia entorpecente, que nos conforma as representações mais boçais da experiência nossa existência. Quantos frágeis castelos de letras não foram construídos ao longo de séculos por essa comedia de erros que é toda a história do pensamento?