Rocky Balboa: sobre o que é ser homem de verdade

O personagem interpretado e criado por Silvester Stalone pode nos ensinar muita coisa sobre o que é ser homem. É possível se construir como homem de diversas formas, acho o modelo representado por seu personagem o mais interessante em relação ao que poderíamos chamar de masculinidade.

Primeiro, Rocky fala pouco. Suas lutas não tem a ver com discursos, fofocas, mitagens e conspirações. Ouve muito e evita falar daquilo que não tem conhecimento. Sua postura é humilde, procura ouvir quem sabe mais do que ele e não se coloca falsamente acima dos outros.

Segundo, a força dele se encontra na persistência e treinamento. O esforço ao mesmo tempo que o aprimora testa também sua convicção e disposição para vencer. O término triunfante de seus treinos na famosa escadaria na Filadélfia é um bom exemplo disto.

Ele é antes de tudo um homem de ação que pouco ou nada fala de seus adversários. Se concentra no que precisa ser feito, nos seus limites e no que precisa superar. Não vence o inimigo através de falas bonitas ou algo assim.

É antes de tudo verdadeiro consigo mesmo, por isto treina duro. Ao contrário dos seus adversários falastrões e prepotentes, ele encara a si mesmo e ao invés de fugir do que é, ele enfrenta e procura mostrar na prática quem ele é de verdade. É a atitude quem diz e não as palavras, lacrações, destruição de reputação, etc.

No ringue, Rocky transmite a mesma mensagem. Não é um cara que se mostra superior. Não vence por bater mais e melhor, mas sim por sua resistência aos inúmeros golpes, que não o convencem a desistir. No final, já combalido encontra sabe se Deus onde forças para surpreender o adversário, quando este já se dava por vencedor.

Como um bom boxeador, ele sabe que a forma como ele enfrenta a dor e os golpes, define se ele continuará de pé lutando ou desistirá. Em outras palavras, o que ele faz com a própria dor? A transforma em algo a ser superado como condição para a vitória.

Rocky faz a diferença onde todos já teriam sido nocauteado. Ele nos ensina que o homem de verdade não é o que evita as coisas ruins e porradas da vida. Não é o que se queixa ou desmerece os seus adversários como pretexto para se esquivar da luta.

Ele escolhe também contra o que lutar. Ele não luta contra prepotências e não cede a provocações do adversário. Não luta contra isto por saber que isto não tem nada a ver com a vitória, pelo contrário, o desvia dos verdadeiros objetivos. E no final das contas, o discurso e a prepotência são derrotados pela atitude e não com mais discursos e prepotências.

Mas não o interessa "destruir" o inimigo ou humilha-lo apos a vitória, ele venceu a si mesmo. Assim ele se vê. Os verdadeiros inimigos estão dentro de nós, nossa arrogância que não no deixa crescer, nossa prepotência que nos convence que invariavelmente sabermos mais que os outros, nossa preguiça de estudar, nosso orgulho que nos faz acreditar que somos donos da razão e que estamos certos sempre.

Ele trabalha em cima de suas dificuldades, chama para si as tormentas, o frio, o cansaço, não se esquiva dos golpes da vida e assim ele se transforma em homem e triunfa já após os treinos duros aos quais ele se submete.

Não olha pra vida com ressentimento e culpando os outros. Ele não diz a vida é injusta, as pessoas são ruins e o mundo não vale a pena. Ele diz para si mesmo, que a vida é assim e que precisa ser forte o bastante para dar conta de vencê-la.

É um forte, prático e de uma obstinação silenciosa que torna seus limites , deficiências e fraquezas seu inimigo. Seu adversário é somente um espelho no qual ele tem a chance de ver verdadeiramente, na prática da luta, quem ele é e o que pode ser.

Rocky se define na luta. Ali ele pode ser um derrotado, um coitado ou um vencedor. Em vários momentos vimos isto: temos pena, pedimos para ele desistir, duvidamos que ele vá conseguir e de repente ele reage contra todas as expectativas, talvez até dele mesmo.

O seu último filme, Rocky VI, ele não vence a luta. Não importa, ele sai antes do resultado, ele já era um vitorioso, vencendo sua meia-idade, os limites auto-impostos sobre suas capacidades.

É algo pessoal, mas acho que homem só se define desta forma. O resto são projetos mal sucedidos, que não aprendem nada com as porradas da vida e evitam de encarar seus limites, defeitos e fraquezas para conviver com uma caricatura grotesca do que eles realmente poderiam ser como homens.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 16/02/2019
Código do texto: T6576121
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