Sobre mudar
Bom, os sapatos não estão mais sob a mesa. Eu nem sei porque estavam. Não deveriam estar.
Mas supus que ficassem melhores ali.
Talvez eu estivesse perdendo o pouco de sanidade que tinha.
Como daquela vez em que te escrevi milhares de cartas não correspondidas, ou quando você me disse que eu vivia um conto de fadas. Insana na minha própria existência.
Por falar em insanidade, o corrimão parou de perder a cor amarela. E o barulho da rua que não dorme, ainda tira meu sono. Algumas coisas não mudam.
Outras mudam quando não tem que mudar.
Eu deveria me mudar. Ou mudar o corte de cabelo, o tom de batom. Eu deveria mudar alguma coisa na minha cara tão cheia de expressões que 26 anos trouxeram.
Eu deveria mudar pra dentro de mim. Mas minha casa está vazia. Exceto pelos sapatos em cima da mesa.
Permaneço muda e estática olhando para o teto mal pintado do meu quarto e pra o poster que ganhei de aniversário. Eu deveria mudar ele de lugar também.
A gente tá sempre mudando.
Você tá sempre se mudando.
Se mudou de mim. Do meu corpo que ainda tem o cheiro do seu perfume caro, do meu cabelo recém lavado e dos meus devaneios sobre nós.
Não te peço pra voltar, porque a casa está vazia e você não tem fiador.
Mas talvez eu alugue uma casa perto de você e te convide pra entrar e tomar qualquer coisa com gosto de maçã.
A propósito, mesmo vazia, é você quem ainda tem a chave.
(Texto escrito em 3 minutos de tristeza absurda e pensamentos desconexos)