O COLETOR DE EMOÇÕES
O Coletor de Emoções
Eu capto, como a um caminheiro errante e despretensioso, as emoções, as imagens, as almas e as experiências com que me deparo. Visualizo-as, presencio-as, assimilo-as, apalpo-as, sinto-lhes o olfato, saboreio-lhes o palato e as armazeno na matéria e na alma.
Nas telas, nos cenários, nas pessoas, na imaginação, nos lugares por onde passo, em tudo, sinto a presença fresca e, ao mesmo tempo, mágica da existência terrena e a centelha de divindade.
Sou um livro emocional, faço a leitura das faces, feições, imagens, olhares, toques e cores, sem me pronunciar: quem quiser que me leia e entenderá o meu conteúdo.
Sigo o caminho, nas vias, nas estradas, nos trilhos, viro as esquinas e contorno os obstáculos e, se há pedras no caminho, as boas recolho e as ruins as arremesso ao um ponto mais distante de mim, mesmo que sem tocá-las.
Um viandante que segue o seu norte findo e desconhecido, como a um rio, depois de enchente que, mesmo transbordando pelas margens, insiste em seguir o seu curso natural, ainda que isso signifique deixar para traz parte do seu leito nos alagados, mas que sabe que não é possível esconder-se da verdade e fugir do espírito, porque esse é eterno.
Pode-se fugir da matéria, fugir de pessoas, evitar lugares, moldar barreiras, solucionar problemas, no entanto, não é possível esconder-se de si mesmo.
É provável que se consegue evitar pessoas, simular situações, forjar o momento e fingir um sentimento, todavia nunca se consegue manipular o âmago de alguém ou roubar-lhe o tesouro interior, pois isso é pessoal e intocável.
Em arremate, um sorriso e um beijo dado ou recebido, um aperto de mão, um abraço apertado, uma linda canção, isso é fato consumado, já foi e é passado, a vida me deu, está dado, não devolvo, foi desfrutado e já me pertence: pessoas, lugares, instantes, feições, carinho, beijos, abraços, prazeres, vida e amores.
(Anailson, Uberlândia)