PEDRAS
PEDRAS
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
A capacidade poética e a qualidade dos versos de Drummond são insuperáveis.
Todavia, permito-me discordar, quando usa pedra no singular. Há tantas pedras no meio e durante o caminho que é impossível perceber-se em uma só. Há pedras pontiagudas que ferem demais, há arredondadas, aquelas de rios, constantemente amaciadas pelas águas, há grandes, que exigem esforços inenarráveis para suplantá-las e as pequeninas que massageiam ou causam pequenas escoriações, há ainda aquelas usadas para atingir alguém e lhe causar dano. É necessário muita sabedoria e determinação para vencer as pedras, mas é sempre salutar entender que a qualquer momento, sem prévio aviso, será encontrada aquela pedra, intransponível, colocada no caminho pelo petrologista maior, que tem o dom e o poder de usar seu livre arbítrio, para interromper a caminhada, colocando, aí sim, uma pedra enorme, intransponível, definitiva, sem avisar o caminhante.