Reflexões acerca da fluidez atual
É estranho como as coisas mudam tão rápido em tão curto espaço de tempo. Viver em um mundo onde a estabilidade é raridade faz ser uma tarefa difícil manter-se de pé. Todas as coisas que acontecem simultaneamente deixam minha cabeça fora do lugar, as vezes, e foi isso o que aconteceu nesse fim de semana, estava certo que ia conseguir colocar minhas coisas em dia, até sexta, mas no fim daquela madrugada minha disposição para fazer o que foi planejado se dissipou.
É difícil se manter de pé quando o chão treme, é difícil manter a calma quando tudo passa mais rápido do que você pode notar. O que uma hora está caminhando para uma estabilidade, na outra, parece que sequer existiu algo, e o pior, se você sente, o problema é inteiramente seu. É certo que viver em sociedade não é fácil, uma porção desejos são reprimidos por algumas regras sociais e, possivelmente, por incompatibilidade de pensamentos, sentimentos e afins. E é difícil lidar com a rejeição, por tempos lidei com ela do pior jeito possível, buscando afetar a outra pessoa, o que só mostrava para ela que sua posição estava fundamentada. Hoje em dia eu me isolo, finjo que estou bem e que aquilo já não me cutuca a cabeça antes de dormir, ou em alguns sonhos que fazem questão de mostrar um futuro incompatível com a realidade. Bem, Freud (2001) já dizia que o sonho é a realização de desejo, e por algum momento, como qualquer crítico de generalizações muitíssimo amplas (isto é, todos os sonhos !), eu critiquei a posição do teórico de quem tanto tiro fundamentos para as minhas divagações, mas nesse fim de semana eu acordei de “sonhos intranquilos”, e aqui, pego emprestado parte da passagem de Franz Kafka (1997) em “A metamorfose” e só consegui pensar em uma coisa: “O sonho é a realização de um desejo”, certamente !
E se é difícil ter uma base em um mundo fluido, se é difícil manter a calma enquanto tudo acontece bem na frente dos seus olhos e você não consegue acompanhar, e se é difícil lidar com a rejeição, é ainda pior quando chega o momento em que você está sozinho e sua mente sabota sua possível felicidade, ou ainda, apenas a “produtividade”, pensando em coisas que estão além do seu alcance. Então não quero ouvir que estive errado pois cada música que eu escutei, nesse fim de semana, teve seu significado, cada acorde que eu toquei, nesse fim de semana, teve um peso afetivo diferente de outras vezes, cada ausência que eu tive, foi uma forma de me fazer presente, mas um silêncio específico, que indiretamente teve a intenção de afetar, esse foi um grito por socorro, e ironicamente, você não ouviu.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, S. (1900). A Interpretação de Sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
KAFKA, F. and Carone, M. (1997). A metamorfose. São Paulo: Companhia das Letras.