Quando acaba o amor.

Chovia bastante. De certa forma, o clima casava exatamente em como ele se sentia. Dentro do quarto, ela explicava mais uma vez o porquê do término, enquanto ele andava de um lado para o outro, balançando a cabeça e tentando digerir o quanto sua vida havia mudado nas últimas horas

"Mas nós podemos consertar isso. Olha, a gente tá juntos há tanto tempo, passamos por tanta coisa, você precisa dar essa chance pra gente, pra nós" Sentada na cama, ela continuava irredutível. O sentimento havia mudado, dizia. Mas como algo tão forte como o amor dos dois poderia ter mudado assim? "Tem outra pessoa?", "não tem ninguém, eu só preciso ficar sozinha agora.", "Há algo que eu possa fazer", "não, não creio que tenha." E assim o diálogo continuava. Ele tentando de todas as formas argumentar contra a irredutibilidade dela.

A garota saiu para ir ao banheiro, deixando o pobre namorado, agora ex, sozinho no quarto dela. O rapaz olhou para as fotos deles dois juntos no mural grudado da parede. Lembrou de cada um dos momentos eternizados pelas imagens e tentou recordar os primeiros sinais de problema. Não conseguiu. Se já fazia um tempo que ela se sentia assim, como ele não havia notado?

Olhou para o moletom que ela havia roubado dele ainda nas primeiras semanas de namoro. Era seu favorito, contudo, achou o gesto tão romântico que nem reclamou a respeito. Recordou-se da época, do quanto viviam grudados e apaixonados. Para ele, pouca coisa havia mudado. Quando foi que o amor acabou para ela? Como foi que isso aconteceu?

Interrompeu seu devaneio quando a garota chamou seu nome. "vou pedir um Uber pra você, okay? Quer mais alguma coisa?"

Naquela hora, em sua cabeça, ele esbravejou: "Dá pra me explicar como isso aconteceu? Como você, de repente, se desapaixonou por mim? Como até ontem nós estávamos planejando nossa viagem de cinco anos de namoro e você me joga uma bomba dessas? Por que você fingiu estar tudo bem, quando na verdade não estava? Custa você ao menos pensar em mim? Tentar fazer funcionar ao invés de desperdiçar todos esses anos juntos?" foi tudo o que pensou em dizer, para fazê-la sentir ao menos parte do que ele estava sentindo agora, um pouco daquela dor no peito, daquele vazio no estomago. Só pensou, porém

"Água, um copo d'água seria ótimo."

A garota sorriu. Mais uma pontada no peito. Iria sentir falta daquele sorriso. Quando ela saiu para atender seu pedido, ele pegou rapidamente o moletom e enfiou em sua mochila. Ela não precisaria mais dele.

Amanda Távora
Enviado por Amanda Távora em 07/02/2019
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