Uma carta reservada ao destino

Ontem, pela primeira vez em muito tempo me permiti retornar ao local onde nos conhecemos, onde você nos uniu pela primeira vez, não sei o por que de estar com tanto medo, parte de mim queria acreditar que ainda dava para voltar no tempo, enquanto a outra parte covardemente temia não suportar a dor das lembranças, me pergunto por que você fez isso comigo? Quer dizer, se tinha uma chance, uma mínima chance de dar tudo errado de novo, então por que ter tanto trabalho?

Foi um dia agradável...Eu caminhei pela praia sentindo os meus pés se enterrarem na areia pouco a pouco, cada vez um pouco mais, deixei que o vento me acariciasse o rosto como a vários meses eu não permitia, e sorri, porque me lembrei que era assim, era exatamente assim que ela me tocava, depois foi a vez do mar, e esse eu nem preciso dizer que foi me atropelando com toda a sua força, afoguei meus pé nus sobre suas águas gélidas sem recuar, que ficavam cada vez mais congelantes quando o vento se deitava sobre elas, e a todo momento me perguntava se você sabia que as coisas terminariam daquele jeito, e se sim, qual era o real propósito daquilo tudo?

O sol já não me incomodava como antes, eu olhei em volta e percebi que estava completamente sozinha, como se aquilo tudo fosse pra mim, uma paz invadiu minha alma e foi como se eu finalmente entendesse que as vezes estar sozinha não significa não ter ninguém, afinal, eu tinha ela em meus pensamentos o tempo todo, morando dentro de mim, o barulho das ondas batendo contra a margem me acalmava como naquele dia que você me colocou diante dela, eu tive certeza que não era o fim, não podia ser, porque percebi que todos aqueles barulhos não soavam nem um décimo mais alto do que as batidas inconformadas do meu coração, talvez seja meio clichê, eu sei, é que era tudo tão mágico e ao mesmo tempo tão real, e acredite por muito tempo eu agi na contra mão das suas expectativas, eu dei trabalho não foi?

Mas sou uma escritora afinal, eu escrevo o que eu vejo e descrevo o que eu sinto, enquanto você está por aí, unindo e separando vidas a todo momento, mas posso dizer uma coisa que você não previu, aquele beijo tinha sido a primeira vez que eu fiquei sem palavras, talvez por isso eu não tenha dito nada ou expressado uma emoção, eu não sabia o que dizer...'eu te amo'? Eu não sabia o que era isso e ela partiu achando que tinha falhado em me ensinar, mas não, eu garanto que aprendi e posso dizer que aprendi tão bem que eu só amei uma vez na vida, ela achou que estava me preparando para outra pessoa amar, mentira, nem eu e nem você acreditamos nisso.

Então seguimos vidas opostas e nossos caminhos tão distintos começaram com um 'ADEUS' pela metade, faltou um ponto final na nossa história, e faltou eu vir aqui te deixar essa carta, pra perguntar onde é que você estava e por que nos abandonou? Talvez eu seja maluca, provavelmente é verdade, mas eu só quero que você encontre uma forma de dizer a ela que está tudo bem, eu entendo que não consiga me perdoar ainda, mas a resposta é não, eu não estou apaixonada por outra e sinto dizer, não por mim e sim por você, que dificilmente eu vou ser capaz de sentir o que sentimos de novo, se é que podemos chamar isso de amor, mas daqui por diante vai ficar muito mais difícil o seu trabalho.

Estou tento dificuldades para terminar essa carta, talvez porque eu não queira dizer adeus, não de verdade, eu não estou pronta e nem sei se um dia vou estar, acontece que dentro de alguns meses eu estarei saindo do país como você planejou e será para nunca mais voltar, por isso, tinha que vir nesse lugar de novo, você entende? Tinha que me lembrar dela outra vez, pela última vez, pra te dizer que eu ainda não a esqueci, mas precisei me afastar, porque é o certo, porque me senti traída por você, quando vi o sorriso dela refletido nos olhos de outra e essa minha parte egoísta ainda não consegue não sofrer com isso, mas eu sinceramente espero que um dia você possa me ensinar a deixar de ama-la tanto.