Rascunhos
Aquele livro, que tinha pouco mais de duzentas páginas e foi guardado por anos, era bem maior que tudo, maior que meus próprios sonhos. Nunca pude entendê-lo ou decifrá-lo completamente, como gostaria, e, do pouco que sei, em seus versos se passava a vida, como numa conversa sobre o tempo. Foi por muito pouco que não o perdi em meio a muitos outros que, só talvez, não tivessem tão boas memórias e, quem sabe, se tivessem, nem fossem tão bem recordadas. Ele ficou imóvel na prateleira, toquei-o poucas vezes, mas vê-lo mesmo, não o vi, assim como não tenho visto muita coisa... Mas por ter em mim que este livro não é meu por inteiro, saltei-o profundo, o quanto pude, rascunhei algumas linhas, mas voltei cedo, e ele saltou-me, também, e foi mais longe que eu imaginava... Nem voltou mais, se quer mesmo saber a verdade, agora vive aqui dentro, como se eu fosse seu lar almejado e ele o meu essencial alimento.