Propósito

cada dia vejo algo que me deixa empolgado, me motiva a fazer, ser diferente, sem motivos diferentes, sempre com o mesmo propósito, me sentir útil, sentir que cumpri meu destino, tenho esse entusiasmo, mas sei que tenho muito que fazer ainda.

Meu Pai certa vez disse, o homem, melhor, um Homem, precisa plantar uma árvore, escrever um livro, e ..., percebi que ele precisava de ajuda pra concluir algo tão sábio, tão sóbrio, então eu disse, ter um filho, orgulhar-se dele, construir uma casa, amar, sofrer por amor, odiar, sofre por odiar o fato de ainda amar, e esperei uma piada vir dele, mas ao invés disso , se calou, levantou-se de onde estava sentado, próximo de mim, sentou na beira da piscina, ficou quieto por uns 10 minutos ou mais, pegou uma cerveja no cooler, me deu, e disse, sua mãe era muito bonita, muito inteligente, muita brava, palavras que de fato, descrevem minha mãe.

Escrevi muitas coisas à respeito dela, inclusive precisam ser revisadas, mas sempre que tento ler, começo a chorar e sentir uma dor muito forte, me bate o desespero de sentir a dor da perda, então desisto de ler pra tentar arrumar o que está errado, sei que tem muitos erros, mas, meu ego aceita meus erros, quem ve meus erros, sabe que devo ser bom em ter idéias, consigo colocar no papel o que penso, sei que erro as pontuações, mas um dia, talvez eu aprenda ou alguém me ajude a corrigir minha gramática.

Tivemos um momento em família de relembrar as broncas dela, infelizmente não tenho forças suficientes pra falar de quem já se foi, sinto meu olho quase explodir, garganta fecha com minha força pra não deixar o choro subir, peito dói, está doendo agora, gostaria de ser forte, talvez esse seja meu mal, talvez minha fraqueza não me deixe alcançar meu propósito.

Meu pai não tem formação escolar, sabe ler, escrever e é muito bom em matemática, meu pai é um exemplo de determinação e de luta, ele teve um desafio lançado pela minha mãe, pra poderem se casar, ela exigiu que ele construísse uma casa que ela projetou, meu pai comprou o terreno, ela deu o projeto, ele trabalhou com obras viajando para outros estados, e construiu a casa, do jeito que ela projetou, casaram-se depois de alguns anos, nasceu minha irmã, pouco mais de um ano depois eu nasci.

Minha mãe me contou que fui um acidente, não era pra ter engravidado, não era pra ter me gerado, rsrs, então, decidiu abortar, tirar minha vida, foi até uma clinica, acompanhada do meu pai, decidida, com muita dor no coração, mas foi, meu pai não queria apoiar o que ela ia fazer, ficou sentado na calçada de frente a clinica, olhou pro chão e viu uma bolinha de gude, viu aquilo como um sinal pra não deixar ela continuar com aquilo, e era apenas isso que ela precisava pra desistir de fazer o aborto, e foi assim, ele entrou com aquela bolinha na mão, ela estava buscando forças pra desistir, e eles conseguiram juntos, desistir de abortar o orgulho da vida deles.

Nunca me senti normal, sempre me senti especial, sentia ser diferente, sentia que seria alguém muito importante ou faria coisas extraordinárias, tinha e tenho um sexto sentido apurado, pena não saber usa-lo para o bem, mas prevejo as coisas de ruim, mas nunca soube como evita-las, inexplicável, eu sei, mesmo assim, aos 38 anos, me vejo realizado, sempre soube que tenho uma espécie de proteção divina, mesmo que o mal me aconteça, acontece pra evitar uma mal maior, um mal pior do que esse que praticamente só serviu pra me desviar da tragédia.

Agora são 3h da manhã, e isso martela na minha cabeça, sinto me como tivesse vivido 100 anos, experiências demais, mais não cheguei a 1% de sabedoria, continuo buscando, recomeçando, reprocessando, reaprendendo.

Ter um propósito é muito mais que nascer, engatinhar, andar, estudar, trabalhar, namorar, casar, ter filhos, ter netos e morrer.

Danilo Sander
Enviado por Danilo Sander em 23/01/2019
Reeditado em 23/01/2019
Código do texto: T6557280
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