MORTE: Mito?
Leio, de Isaque Santos (7 de novembro de 2017):
O mundo de 'O Sétimo Selo' é um mundo melancólico, de flagelos e penitências desesperadas, de tentativas humanas de encontrar uma razão para o sofrimento que se impõe – e para a tragédia que se anuncia. Uma realidade desencantada, fúnebre, onde o morto parece ser ninguém menos que o próprio Deus: a impactante cena do rito de autoflagelação coletivo, que ocorre sob o som gutural de um canto gregoriano, soa mais como um verdadeiro velório para a divindade do que uma ação que visa modificar o curso dos fenômenos naturais (no caso da trama, a peste endêmica).
Nesta complexa engrenagem, isto é, de um mundo esmagado pela praga e pelo morticínio, e no qual Deus – ao menos para a maior parte das pessoas – permanece em silêncio, a teatrologia de O Sétimo Selo nos fornece uma ilustração in loco da relação moderna entre a realidade humana e as realidades suprassensíveis, entre o homem e a divindade.