Pés

Sentado e debruçado sobre os joelhos, e olhando os meus pés pouco cuidados, meio inchados; enquanto ouço, mergulhado num silencio quase absoluto, entre os cantos de grilos que se escondem pelos cantos, um corinho que era cantado numa igrejinha de uma rua que eu sempre passava, ritmado pelas palmas, indagando, embalados em sincronia com alguns pulinhos um pouco giratórios, que fogo seria aquele em volta do altar; e o que parecia ser uma divisão de vozes na cantoria, em tom diferente -- como quem responde à indagação -- dizia que aquele fogo era jesus cristo que estava naquele lugar.

Meus pés testemunhavam as pedras e cascalhos por onde eu pisava; estão ali diante da minha cara, um pouco ressecados, com as marcas do calçado, e com as unhas sem cuidar. São capazes de ter até lembrança, mergulhados também num silêncio quase absoluto, entre os cantos de grilos que se escondem pelos cantos, o corinho que eu ouvia, que era cantado na igrejinha daquela rua que eu sempre passava, tentando repetir com o pisado no chão, o ritmo que indagava a dúvida daquela questão, que estranhamente contaminava com seu compasso de pulinhos de três em três, para um lado e para o outro, a surpresa pelo fogo que aparecera em volta do altar ser o salvador que finalmente retornava àquele lugar.

Douglas Mello
Enviado por Douglas Mello em 08/01/2019
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