Sobre a arte de nadar

Sabe, eu nunca aprendi a nadar..

No fundo eu sabia que isso ia me fazer falta algum dia.

O ano começou, e eu sinto que a água começa a subir, sugando meus tornozelos, consumindo minha pernas, abraçando minha barriga e peito.

Eu miro o horizonte, inclino minha cabeça para tentar ver as estrelas, quem sabe uma réstia de luz do pôr-do-Sol.

Uma última tragada de ar e tudo vira escuridão.

Estou imergindo, sendo tomada por um oceano tempestuoso que eu mesmo comecei soprando os ventos.

Não consigo respirar, meus braços batem inutilmente na água que envolve todo meu corpo, meus olhos estão abertos, embora tudo que eu veja é a negritude do mar profundo. Cada segundo prendendo a respiração é doloroso e meu estômago se retorce por não saber o que fazer.

Hoje eu pensei, se eu parar de me debater tudo vai acabar rápido.

E eu fui descendo, descendo... afundando em mim mesma.

Em partes tão solitárias que eu não sabia que existiam.

Havia cavernas cobertas por pedras de medo musgoso.

A água é fria.

Congela meus ossos, minha alma.

Lentamente as bolhas começam a sair, primeiro com velocidade espaçada, depois com ânsia, como se apostassem quem chegaria primeiro a superfície.

As últimas bolhas parecem não se importar com a corrida, como se conseguissem ver algo além da escuridão que meus olhos captavam. E lentamente subiam, admirando tudo a sua volta. Vagarosamente, com sede de registrar esse momento nas ondas tranquilas e profundas pelas quais elas, majestosamente, estavam.

É solitário, silencioso.

Não há lágrimas, por que o oceano leva embora.

Talvez ele própria seja a junção das lágrimas de toda a humanidade.

É meio mórbido, eu sei.

Mas até há uma certa beleza em toda a cena, como um quadro envernizado em uma parede pintada de azul turquesa.

Moldura dourada.

Uma janela branca ao lado, aberta.

O vento dançando com a cortina de renda.

Um Sol de primavera, preguiçoso, insinuando-se pela soleira da janela no chão de madeira.

Um quadro dentro de outro quadro.