O que está por trás do azul e rosa de Damares Alves

Durante um tempo, anos atrás, quase sucumbi ao casamento em um relacionamento abusivo para atender aos anseios sociais. Porém, ouvir a voz do coração sempre fez parte das minhas decisões. Desisti do casamento, do apartamento pronto e mobiliado, do homem alto, trabalhador e que tinha as mãos mais bonitas do universo. Ele era também, extremamente inseguro e discutia toda vez que eu viajava (a trabalho). O ciúmes e a desconfiança dele eram claramente sinais de violência (psicológica). Tudo se tornava ainda mais incômodo e sofrido porque eu o respeitava. Por outro lado não deixei de fazer o que achava que tinha que fazer. Tomar as decisões de continuar dando conta da minha vida, da minha formação, das minhas viagens, só foi possível porque desconstruí o papel social direcionado às mulheres. Não acho nenhum problema casar e ter filhos. É lindo uma família que se entende, se ajuda e se compõe. Mas o que fiz foi ouvir meu coração. Era aquilo mesmo que queria? Casar com um homem bonito, de mãos gigantes, mas que me tiraria a paz toda vez que se sentisse inseguro? Não. Definitivamente não. Então, é isso que está por trás da fala da Damares Alves. Papéis definidos para homens e para mulheres. Mulheres não devem se atrever a serem mais que reprodutoras e esposas. Mas gente, vamos combinar, mulheres podem ser isso e muito mais se ultrapassarem as barreiras que são colocadas. Não há problema nenhum ser mãe e esposa, mas caso ache importante ser mais, vá a luta, o azul (trabalho, força, reconhecimento) não é só dos homens. É das mulheres também. E o rosa (delicadeza, cuidado, compreensão, amorosidade) também é dos homens. Exercitemos e partilhemos trocas desses papéis colocados a um ou a outro. Pode ser até divertido! Homens que avançaram neste debate tem sido felizes em dividir tarefas, em serem cuidadores das crias, trocarem fraldas, alimentar, cuidar. A gente só precisa avançar. Só isso. Retroceder não dá. Já caminhamos o suficiente para saber que andar pra trás não nos cabe mais. O livro "We" de Robert Johnson, indicado por um amigo, na ocasião do término do meu namoro foi crucial. Johnson discute o feminino e o masculino dentro de cada um (animus e ânima) e o quanto somos compostos por estas duas dimensões em vários momentos da vida. O animus é o masculino e a ânima, o feminino. Animus, a força, ânima, o cuidado. Todos precisam exercitar bem os dois lados. Equilíbrio.

Isabel Cristina Rodrigues
Enviado por Isabel Cristina Rodrigues em 04/01/2019
Reeditado em 04/01/2019
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