Um dia qualquer
Sentado no meio do ônibus, meio cheio para este meio de tarde bem no meio da Vital Brasil. Sol completo, um para cada um, escalda os escalpos aleatórios que perambulam ali sobre o piso intertravado, desviando, quase sempre, dos ativistas do Greenpeace que habitam as entradas e saídas de quase todas as estações do metrô que conheço nessa Paulicéia.
Salto do ônibus no famoso ponto que ficava defronte ao padrão supermercado. No lado oposto da Vital, sentido Shopping Eldorado. Avançaram o ponto com a chegada do metrô, agora bem em frente às lojas Mel. O charme se foi, mas nós é que criamos os pequenos charmes em detalhes comumente insignificantes à maçante maioria.
Pela manhã, pães de queijo, café quente, bolos e alguns pães habitam uma mesa, gerida por uma garota de 15 ou 17 anos, improvisada na calçada onde está fincado o ponto mais próximo do metrô na Vital Brasil pra quem segue sentido Pinheiros. Na verdade estas mesas com essas exatas mesmas características habitam saídas e entradas de diversas estações do metrô com o mesmo perfil de garotas, tal qual os soldados verdes do Greenpeace com seus coletes descolados. As garotas ativistas de classe média chegam após o almoço, o tardio levantar para os afazeres, horário este em que as mesárias dos pães e bolos estão praticamente em suas casas depois do labor qie acompanhou o sol se apresentar, garptas estas cuja classe está na média nacional que não a classe média.
O sol em seus majestosos 35 graus teima em derreter precocemente o geladão de goiaba de 2 reais vendido ali mesmo, na fronteira entre o famoso ponto de ônibus do padrão e a entrada do metrô onde os coletes descolados se deslocam em movimentos pendulares sobre o passeio público.
Dobro, em paralelo aos muros do acesso do metrô, a rota dos ônibus da USP que invadem a cada 10 minutos o terminal intermunicipal de ônibus. Não pego o ônibus, adianto meu passo sobre a MMDC e então, sete sóis após 36 graus cada, é da Francisco Morato que sigo meu trajeto urbano para a antiga Fazenda do jóquei. O suor gruda a camisa na coluna e a sensação de desconforto é aliviada com o primeiro contato com o ar condicionado do ônibus que me recolhe frente ao dantesco sinal entre fumaça e felicidade instantânea.
Catraca dupla, integração autorizada, tomo meu novo assento e relaxo ao observar os quadros em movimento por nanosegundos a partir do vidro emoldurado diante dos olhos. A zona oeste de São Paulo durante uma tarde de segunda feira pré verão perfaz todas as expectativas do cidadão comum: cumpre os requisitos invisíveis de sobrevivência, vivência, convivência e persistência, todos compartilhando do anonimato coletivo (e do sol libertino).