AS IDEIAS AO LONGO DO TEMPO
Em nossa mente surgem os pensamentos, estes constroem as nossas ideias, e estas podem ser descartadas, arquivadas, ou dar origem imediata a atitudes ou ações de nossa parte, exteriorizando os efeitos que manifestam e expõem as nossas ideias. Esse extraordinário mecanismo, levado a extremos, pode produzir um belo e resplandecente cenário, como as descobertas dos raios-X e da penicilina, ou uma profunda e tenebrosa escuridão, como o interior da caverna de Platão, refletida no cérebro humano. Assim, no cenário luminoso nascem ideias brilhantes, que são colocadas à serviço da Humanidade, e no interior da tenebrosa caverna surgem as ideias destrutivas, que podem se transformar em páginas vergonhosas da nossa história, como muitas que conhecemos.
Os nossos pensamentos percorrem as regiões concretas, como todas as circunstâncias ao nosso redor, através da nossa Razão, onde agimos de acordo com as nossas potencialidades racionais, e também as regiões abstratas, onde circula nossa imaginação, através do nosso Espírito, onde perscrutamos conforme nossas potencialidades espirituais. Nessas duas situações, construímos os arcabouços das duas vertentes da nossa história pessoal, como a trajetória da nossa existência individual.
O desenvolvimento das ideias se orienta pelas nossas convicções já existentes, como a sua base, e as ideias se manifestam de acordo com o nosso padrão cultural, mais ou menos explícitas, de acordo com a intenção, ou com a capacidade de explicitá-las, podendo despertar maior ou menor interesse no contexto geral, conforme a sintonia entre as potencialidades dos emissores e as potencialidades dos receptores das ideias, tendo em vista as próprias possibilidades individuais de acesso ao grau de complexidade e ao campo de abrangência dessas ideias. Nessa intersecção evolutiva, as ideias poderão se sobrepor, complementando-se, apresentar similaridades, ou serem frontalmente opostas, tudo dependendo do peso de cada uma delas na sua identificação com as convicções de cada um, já enraizadas individualmente. Os fanáticos, por exemplo, não aceitam as ideias contrárias às suas, pois consideram imutáveis e incontestáveis as suas convicções.
Vejamos a seguir uma pequena variedade de ideias, mas muito significativas, em função da sua profundidade e do seu caráter essencialmente abstrato, o que exige uma grande flexibilidade mental, talvez compatível com a perspicácia de Zenão de Eléia, na sua construção de paradoxos e na equalização de silogismos para a extração das premissas. Vamos então, mergulhar no olho de uma pesada “brainstorming”, para potencializarmos a nossa própria capacidade de criar e desenvolver as nossas ideias, examinando as ideias de alguns notáveis Pensadores, que ao longo do tempo as deixaram registradas na história, como abstrações que são menos evidentes nestes últimos tempos, quando o maior objetivo é “ter” e não “ser”.
Zenão de Eléia (490 a.C./430 a.C.) (Filósofo pré-socrático) Em sua dialética sutil, elaborava suas proposições por meio de argumentos bem definidos, para, logo em seguida, combatê-los com fortes contra-argumentos. Com relação a Deus, porém, ele mantinha a sua proposição, afirmando que Deus era o próprio Universo, não sendo, portanto, nem finito nem infinito, e nem em movimento, pois todos os lugares estão unicamente no Universo, que por sua vez não está em nenhum lugar, pois Ele mesmo é o lugar de tudo o que existe e tudo se movimenta dentro Dele. Como o Universo compreende em Si mesmo tudo o que existe, Ele não pode ser comparado a qualquer outra coisa, pois fora Dele não existe nada para que se faça a comparação.
Isaías 46;5 a 7 – Que semelhança vocês vão arranjar para mim? Com o que vão me comparar? Com alguma coisa que eu me pareça? Alguns tiram o ouro da bolsa, pesam na balança certa quantidade de prata, contratam um ourives e mandam fazer um deus. Depois se ajoelham e o adoram. Põem o deus nos ombros e o carregam, depois o colocam num suporte e o firmam bem para que ele não venha a sair do seu lugar. Por mais que alguém o invoque, ele nada responde e não livra ninguém de suas dificuldades.
Platão (428 a.C./347 a.C.) (Filósofo) “Tudo o que nossos sentidos registram são apenas aparências, e sobre esses espectros da realidade não se pode ter conhecimento verdadeiro, mas apenas opiniões. Nosso intelecto é incorpóreo e apreende as ideias e formas eternas, mas os nossos sentidos são materiais, como as aparências do mundo, e registram apenas os fenômenos do mundo material. O espírito esteve no mundo real e contemplou as ideias no plano da realidade, mas ao nascermos, esquecemos o que vimos nesse plano e focamos apenas o mundo sensível. Contudo, através da luz do espírito os sábios conseguem se deslocar do múltiplo para o uno, ou do efêmero para o eterno, pois todo conhecimento é reminiscência, ocorrendo evolutivamente, uma devolução do espírito para a razão, na progressão da sabedoria, que pode resgatar plenamente a verdade”.
Jacob Boehme (1575/1624) (Sapateiro - Teósofo) “Por isso deves saber que assim Deus é tudo em todos: onde Ele não está no Amor, na Luz, está na acerbidade e na angústia, nas Trevas; pois antes do tempo da criação só havia a Fonte, e, além disso, a Divindade, que permanece em eternidade. Não há nenhum outro fundamento: não encontrarás nada mais. Poupa-te de sondar as profundezas, pois esse é o limite da Natureza. Não deves pensar aqui que Deus tenha feito alguma coisa nova, que nunca existiu antes; pois se assim fosse, teria havido outro Deus, o que é impossível. Fora desse único Deus não há nada, uma vez que mesmo as portas do inferno não estão fora desse único Deus. Houve uma separação entre o amor na Luz e a inflamada cólera nas Trevas, de modo que uma não pode apreender a outra e, contudo ambas estão suspensas uma na outra como um único corpo”.
O amplo sistema de ideias teosóficas de Jacob Boehme foi fundamental, para que outros contemplados com revelações espirituais compatíveis obtivessem um amplo apoio para a sua melhor interpretação das próprias revelações, e melhor orientação para a forma mais adequada de converter essas revelações numa linguagem mais acessível aos estudiosos da Teosofia, tendo em vista a sua intrínseca e peculiar complexidade, como obstáculos para a sua compreensão, uma vez que a sua profundidade extrapola os limites da razão evoluindo para a superior esfera espiritual, mesmo porque não se conhece qualquer outro Teósofo que tenha alcançado a extraordinária dimensão espiritual de Jacob Boehme.
Baruch de Espinosa (1632/1677) (Filósofo) O Deus de Espinosa não é o Deus escondido de Pascal, e Ele pode ser racionalmente conhecido através da Filosofia. Para Espinosa, o verdadeiro cristianismo indica que estamos e somos em Deus, e a encarnação não significa que Deus veio viver entre os homens, mas sim que Ele vive nos homens. Espinosa ataca duramente a teologia cristã por ter destruído essa verdade do cristianismo. Na verdade, Deus se produz a Si mesmo, às coisas e aos homens, e esse modo de autoprodução é o próprio modo de produção do real. Assim, Espinosa elimina a ideia fundamental da teologia e da filosofia cristãs, ou seja, a ideia de criação, ou de um Deus pré-existente que tira o mundo do nada. Deus se produz e produz as coisas pelo mesmo ato e Ele é a causa de Si mesmo e das coisas, como causa imanente e não transcendente. A Sua produção não visa a fim algum, pois é o seu próprio fim, e entre esse ato de produção e o produto, não há distância a separá-los; são uma só e mesma coisa.
Antoine L. Lavoisier (1743/1794) (Químico) “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, a incontestável conclusão do notável químico francês, baseado certamente, nos seus conhecimentos sobre a ciência em que se especializou. Contudo, ele não podia imaginar pela via racional, 224 anos atrás, que a sua conclusão era extensiva também ao Universo inteiro, valendo tanto para onde a racionalidade pode compreender, como para as profundezas onde somente o espírito pode penetrar. Essas transformações têm início nas Trevas em conjunção com a Luz, e são concluídas ciclicamente na mesma conjunção.
Pierre Simon de Laplace (1749/1827) (Físico-Astrônomo-Matemático) Laplace acreditava no determinismo científico, que ele expressou no enunciado que, pela sua complexidade, os cientistas chamam de “o demônio de Laplace”.
“Nós podemos tomar o estado presente do universo, como efeito do seu passado e a causa do seu futuro. Um intelecto que em dado momento, conhecesse todas as forças que dirigem a natureza e todas as posições de todos os itens dos quais a natureza é composta, se este intelecto fosse também vasto o suficiente para analisar essas informações, compreenderia numa única fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do menor átomo; para tal intelecto nada seria incerto e o futuro assim como o passado, seria presente perante seus olhos”.
Albert Einstein (1879/1955) (Físico Teórico), não era ateu, como os racionalistas gostam de divulgar, para reforçar as suas próprias convicções materialistas.
“Não existe nenhum caminho lógico para a descoberta das leis do universo – o único caminho é a intuição. A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia. Acredito no Deus de Espinosa, que se revela por Si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pelo destino e pelas ações dos homens. Minha religiosidade consiste em uma humilde admiração pelo espírito infinitamente superior que se revela no pouco que nós, com nossa fraca e transitória compreensão, podemos entender da realidade”.
Huberto Rohden (1893/1981) (Filósofo - Teólogo) “Infelizmente, uma tradição teológica de quase dois mil anos, destruiu no homem ocidental, a consciência de que “eu e o Pai somos um”. Desde pequenos, fomos ensinados que o homem é mau, pecador, filho do diabo, etc. É que nossos mestres espirituais eram “guias cegos guiando outros cegos”. Identificavam o homem com o seu ego negativo e não com o seu Eu positivo; aprenderam no Gênesis que o homem é “pó”, mas não leram no Evangelho que o homem é “luz”, “espírito”, “Deus” (ótimos discípulos da escola primária de Moisés, nunca se matricularam na Universidade de Cristo. Por Moisés foi dada a Lei; pelo Cristo veio a Verdade, veio a Graça. “Lei é escravidão – Verdade e Graça são liberdade”). Lei é ego – Verdade e Graça são Eu”.
Robert Jastrow (1925/2008) (Astrofísico) “Neste momento parece que a ciência nunca será capaz de erguer a cortina acerca do mistério da criação. Para o cientista que viveu pela sua fé na força da razão, a história encerra como um sonho ruim. Ele escalou as montanhas da ignorância; vê-se prestes a conquistar o pico mais alto; à medida que se puxa a rocha final, é saudado por um bando de teólogos que estiveram sentados ali durante séculos.
Stephen W. Hawking (1942/2018) (Astrofísico Teórico) “Se as histórias do universo no tempo imaginário forem realmente superfícies fechadas, como Hartle e eu propusemos isso trará consequências fundamentais para a filosofia e para a visão da nossa origem. O universo seria totalmente auto contido; ele não precisaria de nada externo para dar corda no mecanismo e colocá-lo em funcionamento. Isso pode parecer presunção, mas é no que eu e muitos outros cientistas acreditamos. E, se de fato há uma história completa e unificada, ela provavelmente determinará também as nossas ações. Assim, a própria teoria determinaria o resultado de nossa busca neste sentido”!
Francis S. Collins (1950) (Geneticista) “Descobri que há uma harmonia maravilhosa nas verdades complementares da fé e da ciência. O Deus da Bíblia é também o Deus do genoma. Deus pode ser encontrado na Catedral e no Laboratório. Investigando a criação incrível e majestosa de Deus, a ciência pode na verdade ser uma forma de louvor”.
Max Tegmark (1967) (Físico - Cosmólogo - Matemático) Conjecturando sobre a concepção da Teoria de Tudo, Tegmark radicalizou a visão platônica de que as ideias existem independentemente da nossa capacidade de conhecê-las, Segundo ele, toda e qualquer formulação matemática existe fisicamente, e o único senão é que esse universo talvez não tenha nenhum habitante com consciência, capaz de descrever os seus fenômenos físicos. As próprias condições para a vida especificarão as equações que governam o nosso universo e nos dirão por que nenhuma outra lei é válida ou aplicável. “Para mim, nosso passado, nosso presente e nosso futuro já estão decididos, e não há nada que possamos fazer quanto a isso”.
As ideias expostas nos diversos textos foram produzidas em épocas diferentes, por pessoas com diferentes formações acadêmicas e culturais, inclusive um simples sapateiro, (o mais fecundo de todos eles) e, não obstante, suas ideias são compatíveis, convergentes em questões complexas e fundamentais: Deus é tudo, ou seja, Ele é o próprio Universo, e o absoluto determinismo é o seu inteiro recheio, o que significa também, que não há nenhuma novidade em tempo algum, em plena harmonia com Eclesiastes 1;9 a 11 e 3;15.
Como observações paralelas, e de acordo com os estudiosos sobre a Bíblia, ela foi elaborada por cerca de quarenta escritores, no período de dezesseis séculos, ou seja, de 1513 a.C. a 98 d.C., e também esses escritores tinham culturas diferentes, viveram em épocas diferentes e muito distantes entre si, mas produziram partes individuais da Bíblia, que se ajustam com bastante harmonia. Isso nos indica que em ambas as circunstâncias, no passado mais longínquo e no mais recente, houve a participação de um “Agente” comum, que operou nos dois conjuntos, heterogêneos em si e entre si, no tempo, no espaço, e na própria evolução ocorrida em épocas tão distantes entre si.
O “Agente” comum, participante em todos os eventos dos dois conjuntos abordados, é aquele que provoca as eclosões dos insights espirituais, que se apresentam como “intuições” em nosso intelecto, confirmando a ideia de Einstein de que “não existe nenhum caminho lógico para a descoberta das leis do universo – o único caminho é a intuição”. Assim, como os Profetas primitivos e os Pensadores modernos não obtiveram as suas ideias através da razão empírica, podemos deduzir, com segurança, que a sabedoria não procede da superfície das circunstâncias externas, mas é obtida nas profundezas do interior do ser humano, despertada graciosamente pela intuição, que é acionada pelos insights espirituais. Mas... e os insights espirituais, de onde vêm?
O “Agente” comum chama-se Espírito Santo, e quando Ele opera, o faz repercutindo o Pai e o Filho (João 16;13,14), passando a ocorrer o que está escrito em João 14;16,17,26 e em I João 2;27. O Espírito Santo é o mesmo a que se referiu Einstein, sobre o qual repousava a sua religiosidade e admiração. O nosso Tratado “As Dez Breves Lições da Theosophia”, elaborado independentemente das ideias dos Pensadores presentes neste texto, cujas ideias então não conhecíamos, postado no Recanto das Letras, é um resumo bem mais amplo e profundo, que percorre todo o caminho, de Zenão de Eléia até Max Tegmark, orientado pelo mesmo “Agente” comum, o Espírito Santo, podendo estacionar também no espírito dos Leitores... Assim seja!
Isaías 45;7 – Eu é que formo a Luz e produzo as Trevas: faço o bem-estar e produzo o sofrimento; Eu Sou o Senhor. Eu é que faço todas as coisas.
Isaías 55;11 – Assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para Mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei.
Eclesiástico 43;29 – Por muito que digamos, ainda nos faltarão palavras... Eis, pois, o resumo dos discursos: “Ele é Tudo”!
Hebreus 8;11 – Ninguém terá que ensinar ao próximo, nem a seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor; porque todos Me conhecerão, desde o menor deles até o maior...
(Porque “Eu Sou o Universo”!)