"PARA A GLÓRIA D'ELE! TÃO SOMENTE PARA ISTO!"

Mas e se venho ao mundo cego e com aleijão?

rebenta o rebento sem, a luz do dia

e a luz do materno olhar,

eis que poder contemplar, sem que jamais, a andar,

ó que venha, ou então, a abraçar e, com as mãos,

poder cumprimentar e obras, poder realizar!

ai que aí, a justiça de Deus questiona-se!

e se eu disser: "é para a glória d'Ele!",

se me não apedrejarem o corpo,

a alma, com toda a ira, apedrejada já terá sido!

chamar-me-ão insano, demente,

de alma completamente insensível e coração petrificado!

"seu empedernido!", é isto que proferirão!

"que fé é esta, sem sentido algum,

obstinadamente radical e, da realidade e de tudo,

absolutamente alienada? bitolado! maldito fanatismo!

melhor afirmar o que, então, cientificamente constata-se:

fôra má formação do feto!"

sou tolo e néscio?

quanto mais os dias vão e vêm

e nasce e renasce o flamejante sol,

tanto mais fundamento-me na minha fé!

ai que, sim! má formação, eis que houve!

mas foi da Suprema vontade que isso se desse!

vão me linchar, isso sim!

poderia, então, eu nascer deformado

pela vontade do Alto?

então, eis que Este Alto e Supremo,

ó Altíssimo Deus, injusto faz-Se!

plenamente, completamente, absolutamente!

cadê a Sua justiça, a Sua imparcialidade?

não é fato afirmar-se que,

acepção de pessoas, não faz Ele?

sim! Ele não faz mesmo!

sim! Justo faz-Se Ele,

em todo o tempo, eternamente!

sim! Bom é Deus e mau, o humano ser!

e sim, cego e aleijado nasci?

assim nasci, sim, para a glória de Deus!

ai como a gente é tolo e néscio mesmo!

sem Deus, somos todos assim!

sem Deus, somo todos assim e somos piores!

imensurável e infinitamente piores!

assim como Deus, imensurável e infinitamente,

bom e justo é!

o homem, o que fará, ai!

se ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua alma?

sim, nesta fé alicerço-me!

creio de coração, creio de alma, creio com meu ser todo,

não sou eu o centro da vida, senão Deus!

tudo o que existe, não existe para mim mesmo,

senão para Deus! desfruto, no entanto, meu não é!

pela vontade do Alto, desfruto e,

pelo desejo de baixo,

ai que a gente não só desfruta como destrói!

de tudo o que Deus concede-nos, ai!,

ai que péssimos mordomos fazemo-nos!

pois desejamos mais ser servidos do que servir!

tolo é o homem! porém, sábio e compassivo é o Senhor!

ai, ai! quando é que a gente vai aprender

que tudo, absolutamente, para a suprema glória Divina

dever ser? na alegria e na tristeza,

na ventura e na desventura,

no deleite e na aflição,

não, não murmuremos, não reclamemos,

não nos revoltemos, não nos desesperemos:

a Ele, glorifiquemos!

mas isto faz-se por fé, não por vista!

por vista, vejo somente o aqui e o agora,

o que diante dos meus olhos apresenta-se:

cego dos olhos, aleijado das pernas e dos braços!

por fé, vejo, enxergo tudo

o que os meus olhos da carne não veem, não enxergam!

por isso, em meio a guerra,

a paz a qual o mundo não consegue, não pode conceder!

porquanto, pela fé,

vejo a deformidade do corpo

com a forma a qual Deus transforma

e com a qual, assim crendo,

glorificada por Ele será

para a eterna glória d'Ele mesmo!

não nossa! ai, não! não nossa, mas d'Ele:

o centro é Ele, não eu! o centro é Ele,

os lados, é Ele, as alturas, é Ele, as profundidades, é Ele

vez que, tudo, absolutamente,

é Ele, é d'Ele e é para Ele!

menos! menos de nós! muito menos de nós!

muitíssimo menos de nós! abaixemos a bola!

mais! mais d'Ele! muito mais d'Ele!

muitíssimo mais d'Ele! a Ele, glorifiquemos!

paremos de agir como crianças mimadas

e caminhemos à plena maturidade!

paremos e reconheçamos que,

em nós mesmos, por nós mesmos e para nós mesmos,

da forma em que está, chegou o mundo!

n'Ele, por Ele e para Ele,

da forma a qual deve ser, chegará o mundo!

porquanto

a nossa glória é efêmera, conduz-nos a nós mesmos,

eterna morte gerando!

a glória d'Ele, eterna faz-se, a Ele conduz-nos,

eterna vida gerando!

a glória é d'Ele, não nossa!

não, não nossa! não, mas d'Ele,

somente e tão somente d'Ele!