Você esteve dormindo enquanto pescava e a onça por si mesma cutucou seu anzol de linha curta

Queria que textos fossem simplesmente um ser se esgarçando. Aqueles remendos que você chama de pele se rompendo em uma fenda amorfa, com finos fios de vida unindo as extremidades, fossem as tiras claras ou negras, certamente contrastariam com a truculência da carne ao fundo, do mais puro e profundo vermelho, camadas e mais camadas sobrepostas de todos os seus antepassados e de todas as estrelas das quais vieram a poeira vulcânica e o pó celular do seu corpo. Os textos que vejo, entretanto, são linha de montagem, matéria de Fordismo. É meio viciante, imagino, receber muitas leituras. Mas o vício é como cloro pro sangue. Esbranquece tudo. Corais mortos são pálidos como escleras leitosas. Vim aqui mais como um apelo, pros senhores que são incapazes de notar as duras cercas da inspiração. Eu almejo a viscosidade que carregam inerentemente. Quero a maçã de Eva ou da Branca de Neve. Me concedam a pulsação vital das suas vísceras e da sua flora bacteriana. Ou vocês realmente emanam a natureza pacata de um paciente que mal consegue abrir as pálpebras cavadas de olheiras?