"PRECISO DE MAIS?"

Era cedinho, bem cedinho,

as galinhas já cacarejando

pelo milho, debulhado sendo,

os pintainhos, junto delas, piando,

o galo mor, já há bem

umas duas horas, cantado havia,

anunciando o novo dia!

cozinha de fora, grande, extensa,

fogão a lenha, café com leite fresco,

das leiteiras do Placídio,

o leiteiro, já falecido,

e sob aquele sol inda menino,

a gente tomava com gôsto

o gostoso café da manhã,

ao som do programa do Zé Béttio,

no rádio: "acorda, gordo!

joga água nele, dona Maria!

joga água nele pra ele acordar!

acorda, gordo!

joga água nele, mãe, joga água nele

pra ele acordar! acorda, gordo!"

ai recordação da infância

no interiorzão da capital!

cidadezinha pequenina, pequenina!

até hoje! nada mudou!

nada, nada! nadica de nada!

coisa boa! eu cresci, mas

se voltar pra lá,

foi só o tempo que passou,

porquanto a cidadezinha, ai!

continua a mesma! intacta!

pura! imaculada! imexível!

imexibilíssima, ai!

e Deus, como bem escreveu

a mineira de Divinópolis, ó Divino!,

"Ele é mais belo do que eu!

e não é jovem! isto sim é consôlo!"

precisa de mais? o tempo passa,

a cidadezinha continua a mesma,

e Deus, o Qual, também,

o mesmo continua,

ai que abençoa! abençoa a cidade

e a memória da gente,

regressa, pregressa, de hoje e de sempre!

e, na eternidade da beleza d'Ele,

ainda consola a gente!

preciso de mais?