Miopia
Se a farinha é branca,
O café é preto.
Se a fumaça negra,
O leite é branco.
Se o feijão é preto,
O algodão é branco.
Se a peste é negra,
A hanseníase é branca.
Se a maconha é preta,
A cocaina é branca.
Enfim, são apenas elementos,
E como nós, cada um tem seu emprego, qualidade e defeito.
Mas, vou compartilhar meu medo
É que, enquanto a massa segue míope,
Preocupando-se com o que daqui nada hão de levar,
Esquecem-se dos valores daquele homem Santo,
Perpertuando deploráveis horrores,
Entre almas que já derramaram tanto pranto.
Não somos nada além de matizes.
Uma profusão de cores espalhadas,
Misturadas em peles, bocas, texturas de cabelos, formato de narizes.
Que servem de invólucro a simples e frágeis humanos,
Que deveriam ser apenas felizes.
E conviver com outros tão humanos quanto.
Entretanto, a coisa é seria e bem outra.
Retrocedemos para bem antes da idade média,
E isso tem a ver com a serpente,
Uma questão bem antiga, que surgiu lá no firmamento.
Por isso, muitos perderam as asas, e caíram por serem incoerentes.
Corromperam a criação, que deveria ser decente.
Esqueceram que o que corre nas veias é sangue,
Vermelho, e da mesma cor
Que pulsa em crentes e descrentes.
A isso sim, deviam atribuir valor,
À manutenção da vida que corre dentro da gente.
Pois no fim, debaixo da terra,
Onde não há mais poder, dinheiro, preconceito ou rancor
Não sobra nada disso,
Nada tem mais importância,
Se bobear, não sobram nem os dentes.