A Cena Muda
Isso veio dos sons. Mas as cenas aparecem mudas. Estávamos nós duas enchendo balões laranjas e rindo, por conta da oxigenação. Iríamos para cozinha, em seguida, e minha expressão naquela hora sugeria que o cheiro do bolo estava incrível. Chocolate com morangos.
Movemo-nos para sala-de-estar, limpando a sujeira e, com as mãos em concha protegendo a boca tossíamos educadamente, querendo expulsar toda poeira. A sala é ampla e arejada. Bastante clara, pela cor escolhida para pintura das paredes internas e, ao abrigo da luz brilhante do sol, que entrava sem pedir licença e encharcava-nos de vida.
"Tudo pronto", lembro desta sugestão ter surgido ao te ver unir as mãos a frente do corpo, como para uma oração. "Podemos cuidar do corpo e relaxar", conjurei no sonho. Então, estávamos correndo, correndo e suando. Consigo ter nitidez da lembrança pelo embalo sonoros daquela música. "Shhhhua!" "Plufffft!" Água para todos os lados. Nos ensopamos na piscina. Agora, o que antes era suor, é cloro com h2o. Mãos na beira e força para cima. O vento gela as gotas, e agora o corpo arrepia.
De volta ao lar, repousamos na cama. Ali por algum tempo, refletimos em posição meditativa. Uma do lado da outra, de costas para parede. As luzes iam intercalando ao nosso redor, eram as horas que passavam.
Esfrega, esfrega o sabão. É divertido tomar banho assim, em dupla! E checa-se a hora. E junta-se as mãozinhas na frente do corpo. Saltinhos levam-te a abrir a porta. Presentes e mais presentes! E batendo palmas, canta-se parabéns com confetes no ar. Comemos o delicioso bolo de chocolate com morangos. Doce! A cena parece ainda mais muda! Hora dos comprimentos de despedida.
Decidimos improvisar uma cabana no tapete. Meus olhos e seus olhos, mergulhavam uns nos outros... Minha palma pousa na sua orelha gelada, você sorri. Eu suspiro. Você suspira. "Eu te amo". E, logo, nossa cena volta a ser muda.