Transbordar.

Sou um pote de vidro com uma tampa.

Mal consigo me fechar. Há muito aqui dentro.

Não tenho rótulo, nenhuma etiqueta pra me identificar.

Eu não sei quem sou, o que sou.

Minha tampa parece não fazer mais suas funções.

Ela deveria proteger todos a minha volta.

Minhas paredes de vidro estão trincando lentamente.

Eu vou explodir, e os cacos vão machucar quem eu amo.

A tampa saiu... O vidro não vai mais estourar.

Alguém colocou uma etiqueta em mim.

"Amor e dor".

Então é tudo isso que tem aqui dentro.

Então é disso que sou feita.

Gentilmente, eu vou transbordando um líquido rosa.

Gentilmente, eu transbordo amor, alegria, gratidão, esperança...

Mas às vezes eu transbordo um líquido negro...

Às vezes eu transbordo violentamente dor, raiva, tristeza, ódio.

Eu sou intensa de mais. Gentilmente intensa. Violentamente intensa.

Eu já estou cheia de sentimentos. Eu estou nos meus limites.

Algumas gotas de amor... e eu transbordo.

Algumas gotas de mágoa... e eu transbordo.

Eu espero que um dia alguém tenha coragem de se banhar nos meus sentimentos.

Eu espero que ele mergulhe fundo em mim.

Eu espero que ele não fuja de mim.

Eu espero que ele não se assuste.

Com todo o amor que é dele.

Com toda a dor que ele vai causar...

em mim.