A arte de ouvir
Sempre fui um bom ouvinte. Escutar catarses existenciais através de verbalizações complexas e muitas vezes desconexas virou um esporte. Intervir com breves comentários durante esse processo se tornou vital como uma espécie de sinal de aprovação para que os narradores protagonistas se sintam plenamente a vontade para continuarem por horas a dentro em suas divagações épicas.
Os ouvidos de terceiros que escutam com os olhos, segundo após segundo os relatos de primeira, são como espelhos que projetam imagens nitidamente opacas dos interlocutores iluminados sob um vasto dossel florestal.
Cada palavra preenche meu tímpano e comunica à rede neural uma informação que, quando processada em sinapses e convertida em funções gestuais corporais, meus olhos dançam a mesma melodia e acompanham o movimento vocálico produzido neste outro universo.
A empatia serve como um entorpecente cujo efeito se retroalimenta a cada palavra respondida pelo espelho que não isola ou condena. A empatia é gasolina para a fogueira da vaidade do ego dilacerado.