TODO MUNDO PRECISA DE TODO MUNDO
Ó vida... tecida de contínuas relações!
Surgidas estas de vivos e precisos contatos
E vede qu’então a História s’escreve no tempo
Ah, não poderia ser diferente!
Oh, as relações!
Tecidas, às vezes, de contraditórios encontros
Entre afagos e abraços pelos que se compreendem... e se amam
Na placidez da mansidão do tempo
Ou entre tapas e choques das lanças que um ao outro se mira
(sem piedade)
A nascer-se da fúria da ventania do tenebroso momento
E destarte nas pinceladas a que se fazem entre amores e ofensas
Onde casualmente (será?) tantos se trombam ou s’esbarram na vida
E alguém disto duvida?
Ó duro exílio que em tal grau s’estende!
E como perdura... pelos tantos que se passam por sua porta!
(quem sabe, por isso nascemos chorando)
Oh, e quando, pois se findará?
No existir a que não se vive senão nas freqüentes relações
E acaso poderia ser d’outro modo?
Todavia, verdade é que somos entes sociais
Ao que disto muitos já se convenciam
Nomes como Rousseau, Emerson, Glasser... (dentre inúmeros)
E dependemos das relações
E por elas vivemos
A que não conseguimos nem podemos viver... sem os outros
Pelo que de todos, portanto precisamos... reciprocamente
E assim s’é:
O escritor precisa do leitor... e o leitor precisa do escritor
O doente precisa do médico... e o médico precisa do doente
O empregado precisa do patrão... e o patrão precisa do empregado
O padre precisa dos fiéis... e os fiéis precisam do padre
O comerciante precisa do freguês... e o freguês precisa do comerciante
O cliente precisa do agiota... e o agiota precisa do cliente
O promíscuo precisa da prostituta... e a prostituta precisa do promíscuo
O viciado precisa do traficante... e o traficante precisa do viciado
O marido cafajeste precisa da amante... e a sua amante dele precisa
O coveiro precisa do defunto... e o defunto precisa do coveiro
Ou diante de tudo acima alguém ainda acha que não?
E por aí se vai...
Ai, nefasta ou, quem sabe bendita antropológica condição nossa
... a que dependemos, pois uns dos outros
Pelo qu'então a todos nest'instante eu pergunto:
"Seria um mal... ou seria um bem?"
Mas, pelo que sim, pelo que não, eis como se resume a vida:
"Todo mundo precisa de todo mundo"
(e tolo quem acha que de ninguém precisa)
A que queremos o outro... junto a nós (ainda que inconscientemente)
Nem que se for para o outro maltratar, machucar e explorá-lo
(como então tantos o fazem... com prazer)
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3 de novembro de 2018