Narrador

Ando a declamar histórias,

Fatos e eventos passados,

De outras pessoas e suas glórias,

Que merecem ter seus nomes bradados.

Quando a narrativa está por um triz,

E as satisfações já são previstas,

A aventura traz o final feliz,

Para todos os protagonistas.

E eu sigo a minha existência,

Como a vida que segue após uma peça,

Quando não existe mais pendência,

Porque amanhã outra crônica será expressa.

Eu narro a esperança,

E o amor mais profundo que existe,

Eu narro a confiança,

E a coragem que sempre persiste.

Mas no fundo estou sem dignidade,

Vivo pensativo, desanimado,

Porque de fato ninguém tem curiosidade,

De saber se o narrador também é amado.

Como poderia eu narrar,

Algo que aconteceste comigo,

Se eu não consigo encontrar,

Meu próprio e reluzente epílogo.

Como poderei explicar,

Aos meus ouvintes atentos,

Que o narrador que está a falar,

Convive com muitos tormentos.

Não existe encanto em um frustado,

Alguém que um dia foi traído,

Que teve seu coração congelado,

E seu mais puro sentimento ferido.

Alguém que um dia acreditou,

Que amava e era amado,

E no fim se despedaçou,

Por alguém do seu passado.

Gostaria de minha conquista narrar,

Virar herói e vencer valentemente,

E viver sabendo como enfrentar,

O medo de se entregar novamente.

Espero um dia saber responder,

O porque as pessoas vão embora,

E conseguir não se machucar e sofrer,

Pela mentira que se demora.

Talvez eu nunca estarei fadado,

A saber lidar com a dor de ser substituído,

Ou saber o preço de ser abandonado,

E no fim ter o coração partido.

Só me resta minha dúvida expor,

Responda-me se estiver a escutar,

Será que um narrador,

Pode se apaixonar?

Viajante atemporal
Enviado por Viajante atemporal em 02/11/2018
Código do texto: T6492862
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