Narrador
Ando a declamar histórias,
Fatos e eventos passados,
De outras pessoas e suas glórias,
Que merecem ter seus nomes bradados.
Quando a narrativa está por um triz,
E as satisfações já são previstas,
A aventura traz o final feliz,
Para todos os protagonistas.
E eu sigo a minha existência,
Como a vida que segue após uma peça,
Quando não existe mais pendência,
Porque amanhã outra crônica será expressa.
Eu narro a esperança,
E o amor mais profundo que existe,
Eu narro a confiança,
E a coragem que sempre persiste.
Mas no fundo estou sem dignidade,
Vivo pensativo, desanimado,
Porque de fato ninguém tem curiosidade,
De saber se o narrador também é amado.
Como poderia eu narrar,
Algo que aconteceste comigo,
Se eu não consigo encontrar,
Meu próprio e reluzente epílogo.
Como poderei explicar,
Aos meus ouvintes atentos,
Que o narrador que está a falar,
Convive com muitos tormentos.
Não existe encanto em um frustado,
Alguém que um dia foi traído,
Que teve seu coração congelado,
E seu mais puro sentimento ferido.
Alguém que um dia acreditou,
Que amava e era amado,
E no fim se despedaçou,
Por alguém do seu passado.
Gostaria de minha conquista narrar,
Virar herói e vencer valentemente,
E viver sabendo como enfrentar,
O medo de se entregar novamente.
Espero um dia saber responder,
O porque as pessoas vão embora,
E conseguir não se machucar e sofrer,
Pela mentira que se demora.
Talvez eu nunca estarei fadado,
A saber lidar com a dor de ser substituído,
Ou saber o preço de ser abandonado,
E no fim ter o coração partido.
Só me resta minha dúvida expor,
Responda-me se estiver a escutar,
Será que um narrador,
Pode se apaixonar?