Pela metade
A parede está caolha, uma das arandelas tem a lâmpada queimada; quebrou-se a simetria do par. E eu pisco incessantemente para ter certeza de que não são meus olhos incrédulos que se recusam a ver inteiro.
Tenho a sensação de que o escuro vem chegando aos poucos, primeiro uma, depois a outra lâmpada; primeiro um, depois o outro olho; sempre primeiro um, depois o outro, numa seqüência enjoativa e previsível. Vejo o que será o próximo, mas vejo pela metade, pois a visão do semi-escuro, da meia-luz, me tolhe os detalhes. São feitos de metades os meus dias, o meio dia, a meia vida.
Minhas certezas todas estão pela metade. Não é metafísica nem metalinguagem. No fim, os fins só na metade das vezes justificam os meios.
A metade da minha sala iluminada me mostra o livro que ainda preciso ler; ando lá pelo meio. A metade escura me dá sono e eu fecho ambos os olhos para não pensar, meio que desistindo, meio que capitulando.
A lua está crescente. Ou será minguante? Não sei, mas até a lua anda pela metade.