A última carta pra você.

Eu estava pensando em lhe enviar um e-mail e te bloquear. Eu estive pensando em te enviar isso pelas redes sociais, e te deletar. Eu pensei em escrever isso numa folha de papel higiênico e te entregar pessoalmente, e depois sumir. Mas vou dizer isso por aqui, onde você não lembra, onde não sabe, onde esqueceu que existe.

Ainda há amor aqui, por você, pelo que fomos e pelo o que podíamos ser. Mas também há ódio e dor...

As músicas que eu ouço, ainda doem, porque costumavam ser suas. Costumavam ser pra você. Os textos que eu escrevo, ainda doem, porque eram seus antes de serem dele. Os poemas machucam, as fotos queimam, os áudios sangram, tudo sobre você magoa.

O médico disse que eu não tenho que me culpar, ele disse que eu não tive culpa; as pessoas dizem que eu não tenho que deixar isso me afetar, porque eu fiz o que eu devia ter feito; os amigos dizem que eu não posso ficar triste, porque foi você quem não me amou direito.

Eu me pergunto se eles tem razão... Ou se era você quem tinha. Eu ainda me questiono sobre isso, eu ainda deixo isso me fazer chorar e tirar o meu sono. Eu deixo isso me afastar dele e notar que o beijo dele não é igual ao seu...

Eu queria tanto que fôssemos felizes. Eu queria tanto uma árvore de natal pra nós e um natal nosso. Eu queria uma família com você. Uma vida com você. Filhos e netos com você. Eu tinha um caminho todo trilhado com você, cheio de enfeites, luzes e placas.

Agora eu tenho algo vazio.

Eu devia ter tentado mais? Ou você devia ter tentado mais? Eu devia ter tido mais paciência? Eu devia ter sido melhor? O problema era eu? Ou era você?

Em alguns pontos eu juro que sumi. Eu juro que em alguns momentos era só você e o que você queria. Eu não sei como eu deixei tudo isso chegar a tanto níveis baixos que quando eu vi, já estava tudo enterrado.

Quanto mais eu notava onde estávamos indo, mais eu me odiava. Eu não sabia como parar, eu não sabia como melhorar, eu não sabia como tentar consertar. Eu só piorei e eu só deixei as coisas seguirem o seu curso.

Agora eu espero me curar o suficiente pra viver uma vida sem você e todo aquele caminho já preparadinho. Agora eu tento arduamente odiar você, ter nojo de você e ironizar você.

Eu me pergunto se é o certo a se fazer. Eu me pergunto se eu deveria realmente lembrar de você sendo algo ruim, quando, na verdade, você foi bom... Ou pelo menos eu achei bom.

Porque eu não sei mais o que foi ruim ou bom, eu sei que eu esqueci de mim tantas vezes que me sinto perdida... eu estou me rastejando de volta pra mim. Eu estou voltando pra aquela velha banheira de água morna dentro da minha mente. E eu estou com medo de ver você por aí.

Eu estou aqui, olhando sua foto na tela do celular, acariciando você em espirito... Eu queria você pedisse desculpa, eu queria que você dissesse que tudo ficará bem, eu queria você merecesse tudo isso de novo, todo o meu amor, todo a minha fé, toda a minha esperança... Eu queria tanto que tudo isso tivesse dado certo.

Mas eu sempre ouvi que eu cobrava de mais, que eu queria de mais, que eu apertava e sufocava de mais, que eu era muito egoísta, muito infantil, muito tantas coisas que eu já nem lembro, eu só lembro que doía, e eu só lembro de me sentir culpada e sozinha.

Eu tinha tanto medo estando com você... Eu sofria tanto por decepcionar você, mesmo quando eu tentava o meu melhor.

E agora, dói tanto... saber que era pra você ajudar, e no fim, você só foi mais um, você fez como todos os outros.

Você se tornou o motivo da dor.

Eu te amei tanto... E eu não nego isso pra ninguém. Eu te amei. De um jeito que eu nunca vou amar outra pessoa. De um jeito que eu não quero nunca mais amar alguém. E eu fui tua... Eu pertenci à ti, como nunca havia pertencido à ninguém, e eu sei que eu nunca mais vou querer pertencer desse jeito a mais ninguém. E eu senti coisas contigo que mais ninguém vai me fazer sentir, e eu sei que eu não vou deixar ninguém nunca mais me fazer sentir assim. E tu amou de um jeito, que eu não quero que mais ninguém me ame. Porque me trouxe de volta à vida, me levantou, me recuperou, me fez explodir e implodir... Mas no fim, machucou, magoou, cortou, estilhaçou, despedaçou, dilacerou, afundou e me enterrou viva.

Eu nunca mais quero sentir isso. E eu nunca mais vou deixar isso acontecer comigo de novo.

Você foi o único a conseguir a minha alma, você foi o demônio e o anjo pela qual eu rezava, eu vangloriava, eu amava. Você foi tudo o que nenhum deles foi ou será. Você é o único... que pôde fazer isso, que é capaz disso. Ninguém mais pode. Porque eu não vou deixar mais ninguém me despedaçar como você fez, eu não vou deixar ninguém me manipular e culpar como você fez.

E eu prefiro arder no fogo do inferno... do que te amar e te querer como eu fiz nessa vida, em alguma outra.

Você não merece nada de bom que eu te dei.

E eu não mereço nada de ruim do que você tem pra oferecer.

Eu te amei... Mas agora eu odeio você.

Chari
Enviado por Chari em 31/10/2018
Código do texto: T6491256
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.