Novo Presidente.
Parabéns para você que votou no candidato Bolsonaro, o mito foi eleito e será o presidente do Brasil, meu presidente, imediatamente após a virada do ano. Eu, infelizmente, já era voto vencido muito antes de se iniciar o processo eleitoral, pois há muito decidi só votar na moralidade, principalmente quando o assunto é o gasto do dinheiro público. Porque é o meu suado dinheiro que está em jogo, entende? Claro que ele está somado ao seu e dos demais brasileiros, não se preocupe, isso eu não vou negar.
Entenda a minha decisão: Para começar, nós não somos pagadores de impostos; eles, os do Governo, nos qualificam de contribuintes. Eu não sou contribuinte de nada! Diz o verbo: contribuir é oferecer auxílio financeiro para determinado propósito. Garanto que nem você age com tamanha benevolência, oferecendo seu suado dinheiro aos nossos gestores para ser gasto com a liberalidade própria dos que nunca meteram a mão na massa. Eles usurpam do nosso bolso (esse é que deveria ser o termo: usurpar) valores que muitas vezes nem chegam a pesar na carteira, como é o caso do IR. Os nossos patrões têm por força de Lei o dever de diminuir do nosso salário o montante referente a esse imposto e depois repassá-lo à Receita Federal. Só tomamos conhecimento da transferência, quando chega o contra-cheque e aparece discriminado a destinação do valor abatido. Nem direito de contestação nós temos - é a Lei. Por outro lado, quando gastamos nosso dinheiro na compra de um objeto, ou no pagamento por um serviço, ou comprando a entrada para um espetáculo, um show, uma partida de futebol... o valor que pagamos leva embutido outros Impostos - que podem ser o IPI, e/ou o ICMS, e/ou o ISS -, e também Taxas ou ainda Contribuições - tais como PIS ou PASEP - e que a transparência deveria obrigar, sem a necessidade do consumidor cobrar, que todo empreendimento no país, qualquer que seja ele, emita a nota fiscal e discrimine todos esses valores. Você que dirige com certeza nunca recebe nota fiscal pela compra de combustível. Se quiser obter sua nota, tem que cobrar do frentista, não é verdade? Ao comprar entrada para uma partida de futebol, nunca recebe a nota fiscal junto com o cupom de entrada, estou mentindo? Não é revoltante a gente se deparar com pessoas que se furtam às suas obrigações? E a fiscalização, por sua vez, nunca vai atrás desses sonegadores. São mesmo impressionantes esses nossos gestores.
Sem desviar do nosso foco é com o agrupamento de todas as notas fiscais que em algum momento faremos os cálculos e perceberemos que em média 47% da remuneração do nosso trabalho acaba sendo carreada para a União a título de tributo. Numa conta fácil: a cada R$ 1.000,00 de salário, R$ 470,00 serão destinados aos cofres públicos para compor o Orçamento Federal. Se deu conta do montante que lhe arrancam do bolso sem a menor cerimônia? Pois é!
Todo final de ano o Legislativo delibera sobre o orçamento do ano seguinte, e uma das precauções adotadas é não informar à população que montante é destinado ao Poder Legislativo, nem quanto é destinado ao Poder Judiciário, quanto para o Poder Executivo, quanto para a AGU, quanto para a PGR, quanto para o MP, quanto para o TCU, quanto para as Forças Armadas... Todos os órgãos do Governo, tanto os aqui relacionados quanto os ausentes deste rol garantem os seus rendimentos muito antes de se proceder a divisão dos recursos e se montar a proposta a ser encaminhada ao Congresso para a deliberação oficial. Feito isso, pode até faltar dinheiro para a Saúde, para a Educação, para investimento na malha ferroviária, para investimento nos aeroportos... enfim, não tem problema, desde que os recursos para pagar salário, auxílios e aposentadoria dos entes queridos já estejam garantidos.
É sob o manto dessa sombra negra que acontecem as baixezas, as infâmias, o descalabro, e, por que não, o descontrole das contas públicas. Na falta de transparência é permitido ao Parlamentar embolsar R$ 2 milhões por ano somando salários, penduricalhos e aposentadorias especiais. E, detalhe, são valores legítimos institucionalizados por leis criadas pelos próprios beneficiados. Diante da falta de clareza, com muito custo e investigação aprendemos que há Magistrados recebendo a miséria de R$ 100.000,00 por mês. Eventualmente a imprensa, empenhada, descobre sob o manto negro, que um engraxate no Senado Federal recebe R$ 10.000,00 por mês para manter brilhando os sapatos dos nobres Congressistas. Você acha isso moral?
A corrupção é capaz de destruir uma nação tanto quanto essa farra com os recursos financeiros do país, nosso suado dinheiro. Tão difícil de ganhar e tão facilmente prodigalizado pelos encarregados de governar. E com isso a desigualdade entre os mais pobres e os mais ricos se agiganta, até quando?
Eu, em sã consciência, não posso votar na continuidade dessa iniquidade. Quer levar o meu voto, então assuma o compromisso de moralizar. Sem o compromisso, o meu voto é nulo. Porque quero ver o meu dinheiro no bolo do orçamento sendo gasto em meu benefício, jamais em benefício ou enriquecimento dos nossos administradores. Quer enriquecer, arregace as mangas e vá empreender na iniciativa privada. Ora bolas!
Bem, somados os números, atingimos os 24,7% de eleitores que se abstiveram de dar legitimidade ao processo eleitoral deste ano. Garanto que neste grupo há um enorme contingente de pessoas que cansaram das promessas e agora exigem a moralidade a qualquer preço. Já que os candidatos não se comprometem com as mudanças que se exige, então também não levam. Esse percentual vem aumentando a cada novo sufrágio. Espero que no próximo pleito a gente continue nesta tarefa árdua e cansativa de convencimento público até atingirmos os 50%. Quando isso acontecer, eles terão que dar ouvido a voz do povo ou esse processo perderá a sua validade. E isso não é o que desejamos, fica aqui registrado. O momento presente, porém, exige de nós brasileiros essa atitude, esse alerta.
Não se preocupe, Jair Bolsonaro terá todo o meu apoio para executar bem o seu trabalho, embora eu jamais pense em abrir mão de exigir probidade e transparência no gasto com o dinheiro público sempre que a oportunidade permitir que eu me manifeste. São as minhas únicas armas: a voz e o voto.