O PARAÍSO DA IGNORÂNCIA

Os “cristãos históricos” estão ouvindo há muito tempo as histórias bíblicas, repetidas exaustivamente pelos “escribas históricos” de uma infinidade de denominações teológicas, ao longo de dezessete séculos. Eles “ensinam” que Deus “criou” Adão e Eva perfeitos e para viverem eternamente, repetindo a história da proibição para comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, que pode lhes causar a morte. Mas, trata-se apenas de uma metáfora, facilmente compreensível. O “paraíso” a que a bíblia se refere é o “estado” em que vivem os seres irracionais, que se orientam apenas pelos seus instintos, os quais os conduzem e os orientam somente para a preservação das suas vidas e a reprodução das suas espécies. Essa condição, mesmo com a evolução, é imutável para todos esses seres viventes, - menos para a única exceção que é o ser humano - cujos seres viventes jamais possuirão o discernimento entre o bem e o mal. Esse “paraíso” está bem aqui ao nosso lado, ocupado por todos os animais irracionais, como por exemplo, pelos nossos queridos animais domésticos de estimação, e nos primórdios da civilização, também pelos seres humanos, simbolizados por Adão e Eva, faziam parte desses animais. Por outro lado, no que se refere à “criação”, é preciso esclarecer que o verbo “criar” não existe no Universo, pois tudo nele é produzido e reproduzido infinitamente, conforme percebeu o químico francês Lavoisier, sem que haja novidade em tempo algum. Contudo, apenas no Terceiro Princípio, que é uma extrageração, onde estão todas as galáxias e seus integrantes, a produção foi feita como uma reciclagem, cuja “matéria prima” do “ovo cósmico” foi toda a “massa” contaminada pelo Príncipe Lúcifer, e este sim, foi quem introduziu, por antecipação, a morte nessa pequena parte do Universo, esclarecendo também a origem do mal no nosso mundo. Como tudo, Adão e Eva foram feitos dessa mesma “massa” contaminada, por isso nunca foram perfeitos nem eternos.

Os seres humanos representam uma espécie diferenciada entre os outros seres viventes, pois enquanto estes evoluem apenas em um estágio, aqueles evoluem por três estágios distintos, onde no primeiro estágio, eles estavam perfeitamente equiparados aos animais irracionais, quando eles também estavam no “paraíso”, sem o conhecimento do bem e do mal. Nesse estágio ele é o Homem Primitivo, e na sua evolução, em certo momento do percurso, ele adquire a racionalidade, com o início do funcionamento do seu intelecto, conferindo-lhe progressivamente, a capacidade de raciocinar e de examinar todas as coisas e as circunstâncias ao seu redor, sejam elas concretas ou abstratas, e de conjecturar sobre todas essas informações, no sentido de utilizá-las de acordo com as suas conveniências. A partir desse momento, “morre” o Homem Primitivo, e “nasce” o Homem Habilidoso que é “expulso” naturalmente do “paraíso” da ignorância, pois ele “comeu” (adquiriu) o conhecimento e com ele a capacidade de discernir o bem e o mal, ou o “certo” e o “errado”, despertando as suas intrínsecas potencialidades. O fruto da árvore do bem e do mal é o intelecto humano, que produz o conhecimento do bem e do mal, e a partir do segundo estágio o Homem Habilidoso adquire a capacidade de discernir sobre o que é bom e o que é mau em todos os sentidos, cujo discernimento passa a integrar a sua própria consciência das circunstâncias que evoluem ao seu redor. A passagem do primeiro para o segundo estágio corresponde ao “despertar do sono profundo” em que Adão estava mergulhado enquanto permanecia no “paraíso” do primeiro estágio, e corresponde também à sua “expulsão” automática e compulsória desse “paraíso” da total ignorância.

A evolução do ser humano, do primeiro para o segundo estágio é natural, espontânea e generalizada, mas a evolução para o terceiro e último estágio, quando “morre” o Homem Habilidoso e “nasce” o Homem Sábio, é mais complexa, pois ela também é espontânea e ocorre naturalmente, porém, essa evolução não é generalizada, como veremos a seguir.

O Homem Habilidoso é intrinsecamente tripolar, hospedando em si mesmo, o Espírito Natural, que abriga todas as suas vinculações com a sua própria Natureza; o Espírito Angelical, que contém as suas inclinações para o Bem; o Espírito Infernal, que carrega as suas inclinações para o Mal. Esses três Espíritos disputam acirradamente a preferência do Homem Habilidoso, que sempre se orienta por um deles nas suas atividades, ocorrendo um contínuo revezamento na sua adoção. Porém, ao longo da sua existência, o Homem Habilidoso firmará a sua preferência, que poderá recair sobre o Espírito Natural, sobre o Espírito Infernal, ou sobre estes dois em conjunto, ou então sobre o Espírito Angelical, mas isoladamente, pois este não faz acordo com nenhum dos outros dois. A opção pelo Espírito Natural, pelo Espírito Infernal, ou pelos dois em conjunto, manterá o Homem Habilidoso no segundo estágio, onde ele já se encontra, e a opção pelo Espírito Angelical, de fato e plenamente, poderá acarretar a “morte” do Homem Habilidoso, e o “nascimento” do Homem Sábio, o terceiro e último estágio da evolução do Ser Humano, neste patamar da existência. Essa transição é uma concessão espiritual que transcende a nossa capacidade de compreensão, diante da consciência das nossas imperfeições. Contudo, podemos ainda conjecturar, que o contemplado ignora porque recebeu o prêmio, mas Quem o concedeu sabe perfeitamente porque o fez.

Na conclusão da reciclagem da Geração Cósmica do Terceiro Princípio, que envolve todas as galáxias com os seus respectivos integrantes, dois terços de tudo será descartado e incorporado ao Primeiro Princípio, absorvido pela Energia Centrípeta, na região tenebrosa do Universo, diluído como uma gota d’água no oceano. Um terço de tudo será reincorporado ao Segundo Princípio, recuperado pela reciclagem e reintegrado à área de domínio da Energia Centrífuga, na resplandecência do Universo. Essa é a separação do joio e do trigo, nas proporções constantes de Zacarias 13;8,9 e Ezequiel 5;2, sendo os dois terços exatamente o número indicado em Apocalipse 13;18, que não foram recuperados na reciclagem. Para informação aos Leitores, segue a transcrição parcial do livro “A Chave”, de Jacob Boehme, definindo os três Princípios que formam o Universo.

Primeiro Princípio – Trevas ou fogo da ira. O Pai é chamado de Deus irado, fervoroso e ciumento. É um fogo consumidor.

Segundo Princípio – Luz ou fogo do Amor. O Filho, o Coração de Deus é chamado de Deus amoroso e misericordioso.

Terceiro Princípio – O mundo dos quatro elementos, produzido a partir dos dois Princípios anteriores, é um espelho deles, onde as Trevas e a Luz, o Mal e o Bem, estão misturados. O Terceiro Princípio não é eterno, mas tem início e fim.

Em todo o desenvolvimento do Terceiro Princípio, ou seja, na sua evolução, não ocorre nenhuma novidade, mas apenas a sua colossal progressão de transformações, e aí está o determinismo previsto pelo cientista Pierre Simon de Laplace, e também cogitado pelo cientista Max Tegmark. Essa evolução predeterminada tem início na grande eclosão do “ovo cósmico” (Big Bang), que pulveriza no espaço as essências de todas as sementes, com todas as informações que serão compulsoriamente materializadas.

O cineasta Luther D. Price formulou o pensamento: “Seja o que você é, e não o que você não é; porque se você não for o que você é, acabará sendo o que você não é”. Porém, diante do determinismo esse pensamento é incoerente, pois sempre seremos aquilo que de fato nós somos apesar da ilusão da possível mudança. Joio é joio; trigo é trigo; e entre essas espécies o “enxerto” não é possível.