Por que nós amamos tanto ter ciúme? Ciúme... Ciúme...

No cérebro o ciúme aparece em uma pequena área do lobo-frontal e felizmente não é exclusividade dos seres humanos, os pássaros, os babuínos e leões marinhos sentem muito ciúme. No homem o mecanismo que agrava o ciúme é o instinto de preservação da espécie.

Se analisarmos o aspecto evolutivo, o sentimento de posse não é uma reprimenda só ao parceiro, mas de tudo que o homem julga ser seu, o homem quer preservar algo só dele, um habitat, um palmo de chão ou um objeto e o ápice da possessão vem em espécie de cônjuge.

O ciúme tem raízes neurobiológicas, nos homens primitivos o ciúme era causado pela preocupação da mulher ter relações sexuais com outro, pois o homem não saberia distinguir quem era o pai de sua prole. Já o ciúme nas mulheres sempre teve a ver com o vínculo afetivo, uma mulher tem ciúme do afeto que o homem possa dar a outra mulher, a mulher primitiva tinha medo que o homem a deixasse com filhos e cessasse os recursos para a família, uma relação de dependência de afeto e cuidados do patriarca protetor.

As vezes o ciume é algo retroativo e não aceitamos o fato de nosso cônjuge ter vivido momentos felizes com qualquer outra pessoa no passado, sequer aceitamos que teve um passado, seja com amigos, família, vizinhos ou até com conhecidos. O ciume retroativo nos faz preferir não relembrar histórias do passado do cônjuge pois os momentos felizes que já viveram nos machucam, nós queremos construir algo novo a partir da linha do tempo que encontramos um par, não nos interessam memórias afetivas ou momentos marcantes com outras pessoas, nós somos capazes de sentir ciúme até de momentos que nosso cônjuge não viveu. Até porque na nossa cabeça não se pode viver momentos bonitos longe da nossa presença, isso seria uma espécie de traição, costumamos ser o centro. A maioria das pessoas não admitem isso.

As pessoas costumam não ter maturidade quando o assunto é ciúme, a idade nesse caso não influencia em nada, pois nunca teremos maturidade, não faz sentido pedir amadurecimento a alguém quando nosso cônjuge dá atenção a outras pessoas e não a nós, jamais compreenderemos, não faz sentido, é como colocar Samuel Colt em uma manifestação ao desarmamento. O ciúme já fazia parte do homem muito antes da agricultura surgir a 12.000 anos e os pães de cevada serem cozidos nas cerâmicas sumérias, e o ciúme incontrolável e até problematizado continuará fazendo parte de nós até nossos últimos dias, não teremos paciência para amadurecer, nem mesmo que nos sentamos e passamos a ler os mais de 130 milhões de livros publicados pela humanidade até então, não nos entrará na cabeça o fato que algo nos "pertence" jamais pode ser sequer admirado ou olhado por outra pessoa.

Sofremos de uma espécie de bulimia de carinho, nascemos com uma compulsão em receber carinho e dar carinho, destoamos de pessoas mais frias, precisamos ter atenção e carinho, temos fome de carinho, somos insaciáveis, as vezes precisamos não necessariamente aquele carinho meloso, mas precisamos de foco absoluto do outro. Mas para perceber que alguém do seu lado quer carinho não é preciso ser um especialista em metalinguagem ou decifrador de esteganografia, é só olhar em seu rosto e verá a carinha de cachorro abandonado e carente, emburrado e entristecido com os ombros caídos, é curioso pensar que isso nos faça perder nosso poder e nossa elegância, nesse momento percebemos o quão frágeis somos e como amamos ter ciume de outrem... Amamos ser donos de algo ou de alguém pela pura necessidade de ter ou pertencer a alguém...

Eden Mendes
Enviado por Eden Mendes em 23/10/2018
Reeditado em 28/07/2020
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