Sobre as eleições...

E algumas confissões...

Dois meses atrás, comecei a escrever uma poesia para o mês do meu aniversário. Acabei atrasando a sua entrega, postando-a em setembro. Estava tudo tão tranquilo... Bem, pelo menos a partir de minha perspectiva, excessivamente caseira e de cidade pequena... Não estava sentindo esta tensão pairando pelo ar, com medo de dizer o que penso a um desconhecido e a partir disso criar uma inimizade precoce ou mesmo de ser ofendido.

Então, sabendo ou, ao ser avisado que as eleições para a presidência estavam por vir, em agosto, eu concluí comigo mesmo que buscaria suprimir qualquer vontade de me envolver politicamente, especificamente por meio das redes sociais. Isso já tinha acontecido nas eleições anteriores, porque nenhum candidato representava a minha maneira, digamos, idiossincrática, de perceber e compreender o mundo, contextualizado à realidade brasileira.

Primeiramente, ao longo deste ano, eu comecei ou continuei a atacar o meu preconceito contra vários pontos de vista'' de esquerda'', e com os quais discordava dogmaticamente, porque, quer eu queira ou não, a minha base psicológica sempre foi mais para a ''direita'' ou para um certo conservadorismo. É de se esperar que uma pessoa muito introvertida, acabe por expressar maior espelhamento a hábitos culturais recatados [discretos aos olhos de um público maior]... e do lar. Não que eu fosse completamente cego aos pontos positivos do ''esquerdismo'', mas que, até então, não estava latente a minha vontade de compreende-los, pois enfatizava em seus erros, segundo a minha interpretação pretensamente neutra. Junto a isso, a convivência mais próxima de pessoas com esta ideologia, e o arrependimento quanto a brigas com alguns amigos, por causa dela, fez com que o meu preconceito contra essas pessoas fosse diminuindo, até mesmo porque fui e continuo sendo muito bem tratado por elas, claro, aqui uma certa generalização de grupo, mas válida, porque até então eu nutria um sentimento mais ambíguo ou confuso em relação ao mesmo, de me sentir parte daquela tribo, mas de não compreender a linguagem que usam e com isso desenvolvendo antipatia sem a convivência necessária para provar a teoria. E continuo mais ou menos assim, sabendo que pertenço a este grupo, mas tendo uma maneira de pensar mais parecida com o conservadorismo, pelo menos no estilo, que é mais concreto e menos abstrato, mais simples ou menos sofisticado.

O meu processo progressivo de aceitação da minha sexualidade e portanto aumento de minha consciência sobre esta faceta, ao me ver mais atrelado à essa identidade, até então periférica, também contribuiu para que buscasse pelo outro lado, depois de anos retroalimentando as bases da minha personalidade [mais conservadora]. Conheci outras pessoas, e também expandi a minha consciência, de uma maneira geral, quanto à importância da vida, a partir do meu auto-aprofundamento filosófico.

Coincidência ou não, eu comecei o ano de 2018 de um jeito e estou agora de outro, porque ao mesmo tempo em que comecei a ver o lado positivo da esquerda, de maneira mais completa, também comecei a ver o lado negativo da direita, que eu, sumariamente, desprezava ou colocava ''panos quentes''. Estou me surpreendendo que, não é apenas a esquerda que mente sobre uma série de tópicos extremamente relevantes [com boas e más intenções, dependendo da pessoa], mas a direita também, e muito. Nossas mentes estão configuradas desta maneira, de modo que, quando vamos muito para um lado, tendemos a deixar de ver o outro lado. Somos, infelizmente, extremistas naturais, porque tendemos a colocar a nossa vontade de competir e ganhar, à frente de nossa vontade de compreender e melhorar o mundo, começando por nós mesmos, resultando no acato de mentiras ou de verdades parciais tomadas como totalidades. E é difícil estabelecer um equilíbrio ou racionalidade em relação a este nosso ímpeto de ''comprar ou trocar todo um sistema em antagonismo a outro'' e por razões de conveniência pessoal, mas não é impossível.

Ao longo desse pequeno tempo, de uma suposta ou mesmo, real calmaria, ao menos a partir de minha perspectiva caseira e de cidade pequena [mas que também percebi em outras cidades, de maior porte] até ao estado de nervos à flor da pele em que nos encontramos, eu acabei me envolvendo politicamente, muito mais do que imaginava ou desejava, por causa da urgência que essa eleição acabou se tornando, e ainda não sei o quão real pode se tornar este alarmismo. Primeiramente, nós temos um presidenciável que, aos olhos de quem ainda não o transformou em um ídolo, diga-se, precocemente, é o menos preparado de todos, desde a volta do regime democrático. Não é apenas isso que choca, mas também o nível de caráter deste homem. Para os seus fãs ou fanáticos, que agora se transformaram em seus ''filhos'', ele representa o cidadão médio, o famoso ''cidadão de bem''. De fato, existem pessoas de classe média [mas também ''pobres'' e ''ricos''] que são trabalhadoras, cumpridoras dos seus deveres, honestas. Mas, em um país como o Brasil, onde o famoso ''jeitinho'' é quase epidêmico, a maioria dos que se auto-intitulam assim, provavelmente não o são, ou não tanto como pensam.

Portanto, mesmo se ele fosse uma representação fidedigna do cidadão médio, ainda teria uma boa chance de não ser este poço de virtudes que muitos, insanamente, começaram a crer.

Este homem já deferiu as opiniões mais toscas de alguém com reais chances de dirigir uma nação como o Brasil, da atualidade. Muitos dizem que ele é apenas sincero, que diz o que pensa. Eu concordo, e é difícil pensar o contrário sobre ele em relação à sua sinceridade crua ou excessiva. Eis aí o problema. Crianças são assim também, são sinceras demais, dizem o que pensam, sem filtrar, sem pensar no outro, sem serem empáticas, e portanto, menos responsáveis. Claro, não são todas elas que são assim, mas a maioria é. Eu fui uma delas, e mais, eu continuo lutando contra esta minha quase incapacidade de filtrar o que penso. Existem razões neurobiológicas para que uma criança ou um adolescente sejam excessivamente sinceros e portanto, no mínimo, grosseiros, porque ainda estão se desenvolvendo, o cérebro ainda em fase de maturação. O adulto que não pensa mais de uma vez antes de fazer uma piada de mal gosto ou de ser ofensivo gratuitamente, isto é, sem qualquer conscientização quanto a esta falha, pode ser considerado como uma pessoa biologicamente madura mas com um cérebro infantil ou definitivamente imaturo. Eu gosto de bom humor, e muitos dizem que sou bem humorado, um pouco contrastante ao meu tom ''denso'' aqui, com os meus textos. Mas é importante evoluirmos em vida, aprendermos quanto aos nossos deveres, não apenas em relação ao trabalho ou tarefas que exercemos, sem falar do senso crítico que todos deveriam ter, e também quanto à possibilidade de sermos mais respeitosos, de usarmos as áreas mais avançadas de nossos cérebros, e como consequência, de refletirmos mais antes da ação que possa ser imprudente ao outro, e/ou sem razão racional. Sou eu, este poetinha pé de chinelo que fala, mas e em relação a um possível presidente?? Não deveríamos exigir mais decoro dele??

Ok, vivemos em um mundo politicamente correto demais, sem controle de qualidade/coerência, e eu tenho muitas ressalvas ao mesmo, começando pelo próprio termo ''politicamente''. Para criticá-lo detalhadamente, eu deveria produzir um texto separado. Respeito é bom, bom não, ótimo, maravilhoso, todo mundo gosta, mas a maioria, pelo que parece, tem dificuldade de usa-lo sempre, tal como uma bússola, orientando as suas ações ao longo desses mapas de interações interpessoais no cotidiano. Todo mundo esbraveja para ser respeitado, mas não são todos que buscam ser reciprocamente coerentes.

Não pára por aí, porque piora e muito. Além das opiniões pessoais predominantemente ERRADAS deste ''cidadão de bem'', que extrapolam o direito básico do indivíduo de ter as suas preferências [Eu preferia o meu filho morto, a ''gay'' .... Eu não contrato ''gay'' para trabalhar comigo, por exemplo, em contraste a dizer ''eu prefiro que o meu filho nasça hétero mas se nascer ''gay'', ainda o respeitarei e buscarei aconselhá-lo ], isto é, não são apenas opiniões pessoais normais OU racionais, mas moralmente abjetas, este Senhor, tudo leva a crer, contratou uma empresa estrangeira para ''aconselhar'' em como proceder nas eleições, diga-se, da maneira mais desonesta e psicopática possível, alvejando um grande público, construindo o seu perfil, e passando a manipulá-lo com desinformações não apenas no sentido de não serem fatuais, mas também de serem divisivas, venenosas contra certos tipos de pessoas, como as feministas ou os negros [historicamente conscientes]. Até agora, a sua campanha foi totalmente baseada na mentira, na transmissão indiscriminada e volumosa de informações falsas. Isso que estamos falando sobre corrupção e sobre um suposto senhor que é incorruptível ou, vagamente falando, honesto.

Tem como piorar. Este senhor passou a sua vida política, longas 3 décadas, inerte em sua função, fazendo pouco ou nada, acreditando ou endossando que o trabalho de um político é a de ''esperar que a montanha venha até ele'' para que possa ter o esforço de assinar embaixo, na canetada, e não que, quando eleito, deva prestar serviços ou buscar ser servil à população, à sociedade. Supostamente, uma pessoa que exerce um cargo político por tanto tempo, e faz pouco ou nada em prol da sociedade, na verdade, fazendo o oposto, disseminando inverdades, pregando ódios irracionais e engordando a conta bancária... é um ser honesto....

Existe um homem público que, diante de tantas notícias obtusas, foi eleito ''com sobra'' no primeiro turno, aqui na cidade ao lado [defensor dos direitos dos animais não-humanos] e que é um exemplo perfeito de como que um político deveria agir, ativamente, buscando pela população, sem desistir, sem ficar só em propostas de leis que não passam no congresso e mais, sem se fazer de vítima, de perseguido, por não conseguir compreender que o mundo está mudando, e se adaptar a ele.

E olha que eu não estou entrando em outros assuntos, como por exemplo, as propostas deste presidenciável que são totalmente contrárias aos trabalhadores, a nós, com base em um falso liberalismo econômico, que só funcionaria, aparentemente, se ou quando tivermos uma sociedade muito mais igualitária [a liberdade individual depende da igualdade de condições].

Também não vou tentar aprofundar sobre as suas propostas que são contrárias à natureza, com base em uma concepção arcaica, sempre errada, de ''progresso'', com a imagem de uma Maria Fumaça varando um campo aberto, antes, de áreas verdes, e os riscos que o desprezo ao meio ambiente podem resultar, se já estão, vide o clima cada vez mais instável ou o desaparecimento de fontes de água potável.

Eu poderia ter dedicado este texto a todos os outros presidenciáveis que disputaram o primeiro turno ou àquele em que eu pretendo votar, diga-se, anos-luz de ser o ideal pra mim. No entanto, nessas eleições, parece que tem sido necessário apontar para obviedades, com inúmeras provas concretas para quem quiser ver ou ler, sem falar sobre possíveis desdobramentos, que, sinceramente, podem até aumentar essa tensão de ódio e estupidez, especialmente de um dos lados.

A mentira amplamente dissimulada do ''kit gay'', que eu mesmo cheguei a acreditar, quando, no alto dos anos de 2010-2014, era assíduo leitor de blogues de direita, é apenas um exemplo quanto ao possível caráter de uma pessoa que se utiliza de tais métodos para conquistar votos. Foge ao debate, e imaginamos o porquê [risco alto de dizer besteiras e perder votos].

Sim, o PT está há muito tempo no poder.

Não, não viramos uma Venezuela ou Cuba, graças a ... deus

Sim, o PT, desde que o Lula passou a disputar eleições, o fez por vias democráticas.

Sim, o PT também fez ''boas ações''.

Sim, também roubaram muito.

Não, não foram apenas eles que participaram, mas todos os outros partidos e com isso eu não estou tentando tirar a parcela [majoritária] de culpa que cabe ao PT.

Sim, eu sou a favor de alternância no poder, obviamente, especialmente quando certo governo demonstra inaptidão.

Não, não apoio um presidenciável que, depois de anos em um cargo público, possíveis favorecimentos desonestos/corruptos, porém de menor alcance, como colocar toda a família para ''trabalhar'' de politicagem, totalmente despreparado, talvez até perpetuamente despreparado, intelectual e moralmente, com propostas péssimas, que afetarão a todos nós, que não pertencemos às classes ''superiores'', sem falar no meio ambiente e nos ativismos sociais necessários, seja a única via possível, mesmo chegando a concordar com ele em alguns aspectos, diga-se, de altíssima importância [inclusive, o meu TCC, apresentado em 2014, foi baseado exatamente no planejamento familiar como maneira de reduzir a pobreza, quiçá a violência (sem a necessidade de armamento) e não, eu não sou um nazifascista que não quer que ''pobre'' tenha filho, mas que um dos mecanismos mais eficazes no combate à penúria familiar econômica seja justamente por meio do controle de natalidade, algo que nossas famílias começaram a praticar décadas atrás.. né ? Lei Malthusiana óbvia: quando o nível de recursos é menor que o número de pessoas que dependem deles, haverá escassez ou instabilidade sócio-econômica].

Independente de quem vencer as eleições, eu espero que a normalidade ou a aparente normalidade quanto às relações sociais de, apenas, dois meses atrás, volte, e que os amigos ou familiares que se tornaram inimigos políticos, muitas vezes por causa de uma mistura de orgulho e ignorância mútuas, reatem as suas amizades e aprendam a ver o lado positivo que todos nós temos. E se acaso este Senhor venha a vence-la, que respeite a nossa democracia, os nossos direitos e repense quanto à muitas de suas propostas, sem embasamento aprofundado na realidade do país, algo, inclusive, que pode ser danoso para a sua própria imagem, e a curto prazo [se já não bastassem as evidências acumuladas... apesar de ser do tipo que acredita em melhorias pessoais, que possam mudar de opinião]. Em outras palavras, que seja INTELIGENTE, porque os tempos de ditadura militar, da esquerda ou da direita, já estão ficando para trás.. assim espero.