Escadas de espelhos

Aquela curta caminhada pela rua movimentada, cheia de alunos universitários. A respiração que não sabe se fica calma ou sem ritmo. Sensação de transpirar ou não transpirar. Boca seca ou salivante¿ É tudo tão oposto, cada passo parece ir em direção oposta a si mesmo. Pra mim, é como caminhar por uma passarela de espelhos. De mil espelhos, de ruídos silenciosos que me ensurdecem, pois em sua maioria habitam em mim. Aquela sala de espera coletiva, impessoal, onde tudo de todos podem estar, onde alguns se olham e nenhum se enxerga. Salvo um dia que uma moça gravida notou meu desespero escondido em um sorriso e sorriu pra mim, dizendo que estava tudo bem. Me imaginei como uma gravida em desespero de parir. Mas sou gravida problemática, uma prenha de ideias que nem nasceram, mas que estavam encubadas esperando alguém pra ouvir. Ou alguém pra desemaranha-las.

E lá se foram meses de eu ouvindo minha voz irritante, meu choro imbecil, minhas dores que sei lá de onde brotam. Fico me comparando com o mundo, me sinto privilegiada em muita coisa... mas me sinto dona de nada, nada me pertence, nem meus sonhos, nem minhas dores, nem minhas ideias. Tudo me falta... sinto falta de um tudo que jamais tive. Sinto falta das asas que jamais pensei em ter. E agora estas asas querem nascer. E doem, doem muito.

Cada suspiro é uma verdade que sai de dentro de mim, silenciosa como uma pena, sem eu ter a coragem de dizer ao mundo o que sinto. E voa. E cai pelo chão, pisoteada pelo tempo que protelo em perder. E segue. Uma semana após a outra. Uma hora vai nascer o que que está aqui dentro. Ou morro tentando parir aquela sensação que aquela moça gravida notou naquele dia que subi as escadas de 12 andares e desci sem ofegar, por estar desesperada por mim mesma.

Sem surpresas quando percebi que fiz isso e ainda sim não me encontrei nas escadarias, alem de moças simpáticas da faxina que me receberam com um sorriso perdido de pergunta " o que essa dai está fazendo aqui nas escadas?".

Não é assim toda vez, mas quando está calmo demais, ocorre como ocorreu. Eu em total sincope de mim. Abstemia do que pensar e louca por sentir, e no desespero de sentir não conseguir falar.

Não é uma poesia, é um desabafo, abafado pelo que descubro em mim e que deve ser arrancado apenas por mim mesma ( bem redundante... bem cíclico, bem tedioso pra quem está de fora e incrivelmente insano pra minha pessoa dentro da roda da minha vida sem graça).

E como você está hoje?

Eu? Nem existo para dizer a verdade... sou um fado de mim mesma. Quase me sinto fadada ao fracasso de meus sonhos, que nem sei se existem. Pois se esconderam nas sombras que eu insisti em buscar na famigerada “terapia”.

Out 2018 Nisa Benthon

Nisa Benthon
Enviado por Nisa Benthon em 16/10/2018
Reeditado em 16/10/2018
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