Nomes próprios

Queria que meu nome próprio valesse menos que o nome comum. Meu nome próprio eu carrego sozinha: alguma coisa, mais uns números por cima. Meu nome comum em última instância é pessoa. Seu nome comum é pessoa. O nome comum daquele cara que você detesta é pessoa. Um imbecil completo ainda é uma pessoa. Nestes tempos sombrios até os nomes comuns têm sido aplicados para nos individualizar, roqueiro, funkeiro, comunista, fascista. E inadvertidamente a gente pensa que esse grupo todo somos nós. É um lance muito perigoso tornar nomes comuns em próprios. A gente protege muito o que é nosso e o que a gente pensa ter controle, num resquício da sobrevivência ancestral. Problema disso é deslocar as pessoas do discurso e não saber com quem se fala. Não dá pra colocar um "nós" no lugar de eu. Não cabe. Tem muita coisa no meio desse nós que precisa ser analisada, depurada, desenvolvida, não dá pra assinar sem ler. Sob o risco de criar essas reações de manada que assistimos boquiabertos todos os dias nas redes sociais. Apesar disso, eu confio no comum, mas só quando o objetivo desse comum é agregar. Inversamente, temos usado nossos plurais com o intuito de excluir, mais uma vez errados, nós - as "pessoas"- erramos todos juntos quando esquecemos de usar nomes comuns para nos colocar lado a lado, num exercício de empatia, para além disso, manifestar alteridade, onde a dor do outro me dói, mesmo que esse outro seja alguém com valores diferentes do meus. Seria bom sempre além dos números, nomes e apelidos lembrar que tanto aqueles como estes também se chamam: pessoa.