O julgamento
 
 
 
Estava eu dentro de um buraco escuro e já sentia alguns vermes querendo me devorar, pressentia que era meu fim. Mal sabia eu que já tinha descido as cordas, estava morta e enterrada.  De repente, fui transportada para um ambiente luxuoso, parecia um palácio, mas era apenas uma sala de julgamento.  Nunca imaginei minha morte, mas ali estava eu, morta e sendo julgada.
 
Colocaram uma balança sobre a mesa. Veio um homem todo de preto e todos se levantaram, imaginei que devia ser o juiz, mas quando ele me tocou senti que era Deus! Ao se afastar vi meu coração em suas mãos.
 
Naquele momento, eu travava um diálogo comigo mesma sobre tudo aquilo.  Seria um filme que eu estava vivendo?  Outro homem começa a ler meus direitos -  parecia filme americano.  Percebi que tinha realmente morrido e ali era meu encontro comigo mesma.
 
O homem disse para mim: - Seu destino será bom se tiver o coração de um menino, tendo a bondade como meta e seguido a religião. Pensei comigo: Lascou! Não tive religião. Perguntei amedrontada: - “Senhor, qual religião?” Ele respondeu sorrindo como se a pergunta fosse absurda: -  “Amar teu irmão”.
 
Em seguida, colocou meu coração e uma pena na balança. Doce ilusão a minha!  A pena pesou muito menos que meu coração. Em seguida, começou a passar num telão cada sentimento que tive no coração. E, Pasmem! Não tinha sinais de ódio, rancor ou mágoas. Chegando ao perdão, todos tinham sido verdadeiros. A balança começou a pender para meu lado. Havia marcas de lágrimas, de desilusão e medo, mas bem cicatrizadas. Meu coração parecia um bucho de gado, não entendia o porquê daquilo, pois  só lembrava daqueles corações das declarações de amor, mas o meu era um bucho com muito furos.  
 
Infelizmente, apesar de quase nivelar com a pena, ainda faltou alguma coisa e com certeza eu seria condenada. Porém, fiquei feliz, pois a balança não estava tão desequilibrada.
 
De repente - uma mulher que parecia minha mãe - disse para os presentes: - “O processo está errado, ainda falta examinar o quanto ela amou e foi amada”. Falei baixinho para ela: - Mãe fique calada, em termos de amor eu fui um desastre, a senhora não sabe como o trem foi feio pro meu lado, sei que amei, mas não sei se fui amada, a senhora não viu o tanto de buraco no meu coração? Meu amor ao próximo não foi tão grande, teve tanto próximo que eu quis ver longe... Vou pegar uma pena maior ainda. Mas, ela continuou alegando que eu era uma poeta  e poetas viviam de amor. Mãe é mãe sempre! O filho é uma coruja e ela diz que é um pavão! Ela não entendia que poetas também vivem de dor! De nada adiantou meus protestos. O coração  voltou para a balança.
 
Assim que acionaram o sentimento do amor, o coração quase fez o fiel da balança flutuar,  pois o amor  era cada marca que tinha no coração. A pena, tão leve! Parecia pesar uma tonelada. De repente, uma porta se abriu e uma luz forte entrou por ela, senti-me envolvida em ambiente de amor, estava feliz, tudo era maravilhoso!  Comecei a caminhar... Mas dessa parte nada posso contar, pois no melhor dos meus sonhos sempre tem alguém desocupado para me acordar, na hora dos vermes ninguém apareceu para me sacudir!  





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