VOCÊS NÃO ME OUVIRÃO FALAR DE AMOR, ESTA NOITE...

12 de outubro de 2018

03:40

Vocês não me ouvirão falar de amor, esta noite...

Vocês me ouvirão falar de coceiras... exatamente naquele ponto das costas onde não se consegue coçar. E talvez eu falarei de insônia, mas só um pouco mais tarde... Vocês não me ouvirão falar de amor, esta noite...

mas, sim, sobre escrever poesias e contos de horror, com meu gato no colo, tentando alcançar o teclado. Então eu faço uma bola de papel arrancado d'um caderninho com rascunhos de velhos escritos e atiro no outro lado da sala. Ele corre e brinca com ele..., e ele é mais feliz do que qualquer um de nós. Porque ele é um filhote. E também porque ele é só um gatinho e é burro pra cacete, e a burrice é a maior alegria que um ser vivo pode ter. O filhote humano tem no máximo nove anos de existência até ser atirado num turbilhão de frustrações e cobranças. E de repente a linguagem do carinho se torna a linguagem da agressividade e do acumulo de posses, e do sexo... e do dinheiro... e aquele desejo velado pelo alcance da morte, que é o suspiro final. A culpa por cortejá-la é a religião que nos dá, mas a religião não é uma criação nossa? A culpa é a grande invenção humana, pois ela nos mantém vivo e em movimento constante... morrer não é uma opção. Jamais. Se eu pudesse eu viveria pra sempre. Talvez eu possa... vocês não me ouvirão falar de amor, esta noite...

03:49

O meu quadro do Johnny Cash é hiper-sugestivo, porque ele me lembra à mim mesmo... ele... com a mão no queixo, pensando em qualquer coisa que não seja o mundo à sua volta. Eu tenho odiado o mundo, odiado as pessoas... mas as pessoas escrevem livros e contam histórias e eu adoro livros e adoro histórias. Minha existência é uma loucura porque tenho vontade de beijar e socar tudo que vejo.

Eu não vou falar de amor, esta noite... Mas enquanto o ovo tenta se fazer cozido num fogãozinho de duas bocas nesta madrugada fria, o que soa pela casa é Mozart. Talvez Mozart seja o primeiro verdadeiro roqueiro... e talvez seja o último. Tudo é sugestivo, numa rádio online de música clássica que toca o "Réquiem" inacabado do primeiro Rock star mundial. Porque logo o Réquiem, não teve fim?! Como poderíamos cantar sobre a morte de um ser que não pode morrer...? Vocês não me ouvirão falar de amor, esta noite.