Teclas de piano

Há uma neblina esbranquiçada envolvendo todo o ambiente, como um véu casto sob um rosto virginal. Não apenas de corpo, mas de alma.

Sentada no divã na sacada do sótão me sinto protegida. Quase como se já não estivesse mais no mundo. Apenas uma observadora a parte.

Os pingos de chuva ressoam no teto de zinco e meu cérebro, acostumado com essa espécie de canção de ninar, relaxa a cada sutil e delicada badalada.

É curioso como tudo pode ser tão diferente do que foi imaginado, mas ao mesmo tempo ser perfeito.

A natureza tem sua própria dança.

E um misto de cheiros suaves acompanham a brisa contínua. Um odor puro, o cheiro das árvores, musgos, plantas, pedras umedecidas pelo riacho.. O perfume da floresta.

Além do vento, as folhas se movimentam, aqui e acolá, com as gotas da chuva que acertam seu alvo. E esse movimento compassado me faz pensar em teclas de piano. É a natureza produzindo sua própria música.

Não estou sozinha, tenho infinitas companhias. Digo isso porque me coloco fragmentada nessa imagem. Existem momentos que simplesmente deixo de ser eu mesma. Esse é um deles. Meu coração enraíza-se nessa terra com tanta facilidade. Ele se sintoniza com o Grande Pulsar, que é a vida de todas as coisas, interligadas.

E mesmo não enxergando tudo o que me cerca, algo dentro de mim sussurra: está tudo bem aí, continue acreditando.

E eu acredito e busco em mim sentidos desconhecidos que me fazem perceber o quanto é maravilhoso estar viva bem ali. E por mais que muitas vezes eu apenas encontre o silêncio, a mesma voz continua a sussurrar ¨continue acreditando¨.

E eu acredito.

Thais Piccolo
Enviado por Thais Piccolo em 11/10/2018
Código do texto: T6473021
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.