A garota do sonho

Era uma vez uma garota que estava perdida. Tão perdida em si, quanto aonde deveria estar. Seus pensamentos constantemente lutavam para subjugá-la, e quando ela não conseguia controlá-los, eles tentavam derrubá-la a todo o custo. Ela se sentia infeliz, se sentia pesada, se sentia deslocada, se sentia presa, se sentia errada. Sempre errada.

E isso era estranho, já que ela sempre teve sua vida certa. Mas de repente, tudo mudou e ela passou a ter a vida errada.

Ela tentava voltar ao que era antes, tentava fugir, tentava permanecer. Mas tudo era em vão.

O problema era ela. Ela não sabia para onde deveria ir, ou o que deveria fazer. Ela queria um amor, uma vida estável e feliz. Mas não conseguia. Ela queria estar rodeada de amigos, mas os poucos que tinha ela afastava com suas desconfianças, com sua falta de interesse ou por sempre estar se sentindo culpada.

Ela estava cansada de sempre sentir a culpa sobre seus ombros. Não sabia o que fazer, dizer, ou pensar. Sempre parecia que ela estava sendo má. E ela não queria ser má.

Ela só queria ser normal. Mas ela não conseguia, por que sempre acabava sendo diferente.

Ela não se aceitava muito bem, ficava se autocriticando. Se autodestruindo.

Honestamente, não deveria ser muito agradável ficar ao lado dela.

Ela sempre se sentia pesada.

Ela sempre se sentia triste.

Ela achou que deixando tudo para trás, sua situação iria mudar.

Só que piorou.

Ela deixou de encarar o mundo, e precisou encarar a si mesma. E isso era muito mais difícil.

Ela era difícil de entender.

O que mais a incomodava era o peso nos olhos. E quando acordava de manha, ela só queria continuar dormindo. Pra sempre e sempre. Sonhando sem fim, os sonhos mais lindos que sua imaginação pudesse criar. Por que seus sonhos eram aveludados, e perfeitos, e normais. Tinham cheiro de pão caseiro e o calor de abraço de mãe. Ela era uma garota normal. Que ia para a faculdade que sempre quis, que a fazia se sentir completa. Então, conhecia alguém legal, namoravam, saiam para passear, se amavam verdadeiramente. E então se casavam, com um lindo vestido de renda branco e com um véu de seda. Teriam filhos. Muitos filhos, por que ela queria uma família grande. E haveria tanta felicidade e harmonia naquele lar que seria como se o céu estivesse na Terra. E todos se amariam tanto. Eles viajariam juntos e conheceriam o mundo e o mundo iria querer conhecer eles todos.

Ela se formaria e iria trabalhar onde sempre quis, e se sentiria verdadeiramente realizada e tranquila. Ela conseguiria ajudar as pessoas e se esforçaria cada vez mais para acolher o mundo. As pessoas iriam querer ficar ao lado dela e ela nunca mais se sentiria só, nem errada.

Ela seria apenas ela, vivendo sua vida sem todos os pesos que sua eu real carregava.

Esse era seu sonho.