Eu sou uma casa

Desperto,

volto para minha casa,

aquela que vai comigo a todo canto,

Não é nenhum encanto,

ao contrário, quase sempre me arrasa.

Ela se molda quase sempre à vontade,

por dentro é desordem,

convicção,

teimosia,

apego, falso sossego.

De dia é barulho, cores vibrantes,

de noite é silêncio, em tons pasteis.

Vezes reflete o que está por fora, de maneira berrante,

quase sempre forçado e pouco sincero.

As vezes se invertem os papeis,

a casa mostra o que está dentro,

escancarada para que notem.

Ignoram os sinais que eu também ignoro,

de forma falha, como aquela porta que está sempre a ranger.

O telhado tem goteiras,

e aqui quase sempre é tempo de chuva.

Debaixo do tapete acumula-se poeira.

Os armários cheios de tranqueiras,

das quais não quero ainda me livrar.

Talvez seja esse o motivo,

por isso não me visita?

Pensei que gostasse do som da chuva,

de ouvir os ecos dos quartos vazios.

Ao menos do jardim você cuida, cresce desordenado,

aos meus olhos que o querem perfeito,

mas acho que está como o planejado

desde sempre como imaginou.

Você quer que eu veja,

mas eu não quero sair.

Não ainda, não sem você ter entrado.

Você quer que eu o veja,

por isso a porta está fechada,

mas não trancada.

Provavelmente emperrada,

e disso eu também ainda não cuidei.

Sou eu quem deve convidar, sim?

Desculpa qualquer coisa,

eu deveria dizer isso no final da sua estadia,

mas não está em mim.

Sempre atropelo, falo por cima.

Esqueço de escutar, de me ater.

Minhas mãos estão ocupadas,

se você carregar para mim posso te receber.

Não é de bom tom,

estou sendo mal educada.

Mas você é infinitamente mais forte.

Me ensina a ser assim?

Lhe ofereci as chaves,

para você entrar quando quiser,

eu sei que me ajuda a por tudo em ordem,

então não me avise quando vier.

Parece que não quero lhe receber,

liga não, eu sei que você já se acostumou,

porém não merece encontrar sua casa descuidada.

Porque ela sempre foi sua e eu me apropriei,

como um emprestimo pra toda a vida me foi dada.

Por isso muito obrigada,

é que posso oferecer por agora,

fica a promessa, minha palavra

de cuidar melhor enquanto estiver fora.

Não quero que vá embora,

Sei que pode ficar,

sair do caminho sem me deixar,

sei que confia no que eu escolher,

mesmo que eu falhe, volto a ceder

te perguntar,

o que devo deixar?

Posso ser sua casa?

Lívia Helena Rodrigues
Enviado por Lívia Helena Rodrigues em 09/10/2018
Código do texto: T6471670
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