O último grão de areia

Por que transformamos o mundo num cemitério de amores?

O amor que fica preso na garganta, que sufoca de palavras não ditas. Aquele que nos massacra o peito e faz rolar lágrimas de saudade de nossos olhos.

A vida é tão curta e parece tão injusto que algo tão perfeito simplesmente nunca venha a existir.

As vezes me imagino correndo por um corredor ensolarado, toda a cena se desenrola em câmera lenta, eu vejo as poeiras em forma de estrela na luz do sol, vejo as sombras que toda a luz produz.

Tudo o que meus olhos em cena captam são borrões acelerados e borrados pelas lágrimas, mas os olhos da alma veem tudo a distância. Esses sim podem perceber cada detalhe, minuciosamente, como se estivessem observando uma obra de arte, captando e decifrando o que o autor quis colocar ali.

No fim do corredor há uma porta simples, pintada de azul claro, tudo nela resplandece e se a esperança fosse um objeto, naquele momento ela poderia ser vista bem ali.

Eu paro ofegante em frente, os cabelos que dançaram ao vento se alinham desgrenhados, como se fizessem uma pequena mesura aquele momento. Eu fecho meus olhos e lentamente minha mão alcança a maçaneta, sentindo sua textura, o peso de sentimentos que carreguei nas costas por tantos anos.

Então, quando eu abro, a pessoa a minha frente muda constantemente, por que na minha vida já perdi muitos amores. E independente de quem seja, uma coisa sempre acontece: eu corro ao seu alcance, como para provar tudo o que não pude fazer fora desse devaneio.

E eu digo tudo, tudo que ficou calado por tanto tempo.

Todas as dores, sentimentos. Todo o amor que não foi compreendido, que foi asfixiado nesse peito tão feito de carne.

Então eu me pergunto, porque esperamos o tempo acabar? Por que deixamos o último grão de areia cair e levar quem amamos para sempre?

Thais Piccolo
Enviado por Thais Piccolo em 08/10/2018
Reeditado em 11/10/2018
Código do texto: T6471087
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