O "Esotérico" e o "Exotérico" [23/09/2018] (Parte 1)
O "Esotérico" e o "Exotérico"
Escrito por Álvaro Vinícius de Souza Silva
(23/09/2018)
Em todas as épocas sempre houve o captar de uma dualidade natural entre o "exotérico" -- a visão comum e exterior sobre as coisas -- e o "esotérico" -- a visão interior, a raiz de cada coisa. Essas duas "visões" nada mais são que uma única realidade em afinações distintas, na qual a figura do "iniciado" se vê numa amplitude de significados bem menos dependente da condição cultural de sua época, por exatamente se tratar da individualização de um estado desperto que reconhece estar em um "mundo" regido por uma ordem cósmica, estando além da "abóbada" celeste, a qual combina a natureza perene das relações estruturais de "mundo" e a mutabilidade incoercível que nos enseja a intuir, concretamente, os símbolos da temporalidade terrestre.
No "mundo atual", se assim se permite identificá-lo, o "exotérico" se dissolve na simples roupagem da aparência, nos andaimes abstratos da virtualidade, absolutamente inimiga do vigor do Espírito e contra tudo o que pulsa vivamente nos cordões dialéticos de nossa percepção integral, no senso natural que possuímos sobre as relações causais e teleológicas que as "coisas" insistem em afirmar por sua origem existencial, concreta e transcendental. Ao invés da sabedoria por uma prática intuitiva e de
reverência ao sentido cósmico, extravasa-se aos ares uma vã sapiência de cultismos acadêmicos que já sucumbem ao estrelato de uma falsa ciência reduzida ao ideário técnico.
Tendo em vista, então, a observação dessa banalidade moderna a que se sujeita intensamente a acepção do "exotérico", decorre-se facilmente que o "esotérico" oculta-se, paradoxalmente, num "universo" menos revelado cada vez mais em que se tenta aprofundar os seus supostos "conceitos", os quais não passam de atribuições nominais que apenas condecoram a vulgarização da "mística" pela corrupção do pensamento do positivismo universitário. A inteligência, por seu manifesto, já não consegue apreender as significações elementares da Natureza, que são entrevistas no silêncio e na contemplação.
Obs: no meu livro "Entre os Luminares da Intuição" (2017), aprofundo metafisicamente esse tema no texto "A Raiz do Dogma".