Eu sou a fome

Eu não guardo o meu coração. Deixo-o exposto, mas embarro-o por precaução, porque paixão é desgosto.

A humanidade nunca está bem, mesmo havendo bem-estar. Eis o homem sempre querendo mais. Eis as pessoas desejando sempre mais do que podem e devem ter, ignorando aquilo de que realmente precisam.

Felicidade é um estado, mental ou espiritual, físico ou económico, enfim. Cada um sabe onde encontrar amor verdadeiro e satisfação pessoal, mesmo que o mundo inteiro à sua volta considere apenas vício temporário.

Neste diapasão, às vezes não nos fazemos desistentes por completo, mas as circunstâncias começam por fazer-nos acreditar que podemos ter perdido tanto na vida sem disfrutar dos maiores desejos da alma. Alega-se que há tempo para tudo, mas o que sempre questionei ao mundo é o seguinte:

E aqueles que se foram sem se terem podido realizar?

Vão dizer-me que tiveram tempo mas não o souberam aproveitar?

Vão dizer-me que temos alguma coisa a ver com o facto de a liberdade e a paz serem mais cantiga do que sapos apaixonados por princesas e cinderelas, cujos sapatos estrelados ousam em ficar perdidos na noite onde não houve embreaguez sequer?

Não. Para a maior parte das pessoas o factor "há tempo para tudo" infelizmente não tem o menor sentido. Não que tenhamos que nos apressar, mas esperar não se traduz em perder oportunidades.

As pessoas apagam-se quando apegam-se umas às outras, sem esperar um anúncio do futuro. Elas correm riscos no princípio sem pensar no fim, mas depois frustram-se com o fim, acabando por culpar o princípio.

Se sou radical?

Nem por isso. Digamos que já vivi teatros que chegam para não aceitar qualquer pessoa que me surja apetitosa e sugira uma mescla de sentimentos. Ao que chamamos de amor, obviamente não existe idade estabelecida para senti-lo. Não existe sequer uma oportunidade de escolha, mas ainda assim tudo depende da vontade de cada um de fazer acontecer.

Falta-nos a liberdade de amar sem ter que prender ninguém, de apreciar a beleza do semelhante sem ter que se preocupar com a cobiça de quem não tem o mesmo privilégio. É necessário deixarmos de pensar que somos pertences uns dos outros. Não existe tempo certo para estar-se com alguém, tampouco existe mal algum em estar sozinho quando se acha que a vida pode qualquer dia revelar-nos o parceiro cliché.

Motivo?

Não nos podemos simplesmente dar. Tudo bem que a humanidade não entende nada de reciprocidade e que o esforço que fazemos por ajuda a outrem raramente é compensando na mesma proporção, mas quem vai querer passar a vida a esfolar-se por nada?

Sou uma simples criança, sim, mas estou ciente de que crise identitária, pobreza, bipolaridade, instabilidade psicológica e depressão reversiva nada são ante um relacionamento bem prognosticado. Há que saber aceitar os erros, os maus hábitos, respeitar a privacidade de cada um, pois só assim se vive em harmonia.

Não existe mulher da vida nem almas que se digam gémeas. Somos todos falhos, portanto de nada vale ser tão selectivo quando já alguém te faz o grande favor de gostar de ti.

Possuo muito mais defeitos do que qualidades, mas ainda assim acabo por ser visto como o ideal companheiro para muita gente. Ali onde todos se questionam sobre o porquê de tanto cinismo.

Ferir corações por diversão?

Por que faria isso? Só acho que as pessoas devem saber devidamente no que se estão a meter.

Widralino
Enviado por Widralino em 07/09/2018
Código do texto: T6442006
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.