Denso

É no silencio da madrugada que restauro o poeta que habita em mim.

Passo o dia tentando sobreviver ao caos que é viver entre bandos e desbandos encorajados pelo complexo Millennium code.

Não encaixo, isso é fato. Mas ninguém encaixa e isso também é fato.

Passo horas de minha vida tentando provar para mim mesma que sou um ser importante no mundo, que farei a diferença e provarei que vim sob o comando de transforma-lo.

Hoje tenho uma obsessão em me descobrir, me moldar e fazer loucuras pra conseguir ter o prazer de me sentir viva. Vivo tão intensamente que me falta êxtase quando a intensidade se torna efêmera. E eu sou boa em causar tédio para mim mesma.

Talvez essa loucura de pular de cabeça, se segurar nos dedos, saltar alturas e esperar reciprocidade seja só uma balela causada pela densidade em que me situo. Arrepio só de pensar em quão perigosa tornarei a minha madrugada, e me seguro a cada segundo para não cometer um assassinato contra as chances que tenho de ser intensa e maluca, pois é um pulo para fazer um papel de trouxa só para sentir a densidade exalando.

Nesses segundos da madrugada eu sinto uma paz esquisita, me dou conta das dores advindas de minhas presepadas e situadas pela extensão do meu corpo. Tenho vontade de terminar tudo que comecei, mas a vontade de deixar para a última hora e sentir aquele pavor com tesão e alívio quando finalmente termino, com qualidade e bom gosto, é muito maior!

É gostar de sentir estresse e raiva, ódio, desgosto, receber críticas e vencer desafios. Eu gosto, me faz um ser humano desafiado, louco e apaixonado por se provar capaz de resolver qualquer problema. Afinal é preciso ter calma e destreza para manejar esses obstáculos.

Quando eu enfrento essas barras me sinto vitoriosa, contemplada pela paz de espirito. Porém cada vez que tiro um tempo para descansar, percebo o tamanho do desgaste que me proporcionei. É um caminho tão excitante e tão perigoso.

Tem dias que não levanto. Tem dias que não quero existir. Tem dias que a vontade é de mandar todo mundo tomar no olho e ficar de boa na minha. Estou cansada desses extremos. Cansada dessa liquidez.

Talvez seja hora de buscar adrenalina em outros sentidos, outros gostos, outras paixões. Talvez seja só um momento para tirar férias, relaxar ao som de ondas e curtir a Solicitude da vida. Vamos descobrir.

Tamara Falcomer
Enviado por Tamara Falcomer em 29/08/2018
Reeditado em 29/02/2020
Código do texto: T6433113
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