VIVEMOS APENAS O TEMPO DE UMA CANÇÃO
O tempo de duração de uma vida não pode ser medido de forma cronológica ou linear. Ele é qualitativo e, como tal, marcado por diferentes compassos, intensidades, ritmos e velocidades.
É como o tempo de uma canção e, como tal ,nossa percepção dele depende de como somos afetados, contaminados pelo seu próprio movimento/ acontecimento. O modo como somos preenchidos pela duração do tempo vivido define nossa percepção dele através da memória.
Não há como traduzir a duração de uma vida através de palavras. Sua textura não cabe satisfatoriamente em qualquer descrição ou significado. Pois em seu movimento há algo de indeterminado, de imaterial ou extra existencial, na falta de um termo melhor e mais preciso.
O tempo de uma vida “significa-se”, marca a superfície do corpo, é expressão de finitude. Sua duração acontece engendrando o fim, seu último movimento, como introdução ou prenuncio de uma ausência, de um silencio, onde já não existe tempo e memória e consciência se nivelam.
Uma vida é como um tema musical executado através de variações diversas cujo tema original nos escapa ou, antes, não remete as suas próprias variações interditando, assim, qualquer genealogia.