Dor da alma
Quando ainda era acadêmica, ouvi de um professor algo que nunca esqueci : "quando tudo dói a dor não é física".
Talvez eu não tenha dimensionado naquele instante a grandeza desse diálogo.
No passado, quando trabalhei com numa comissão interdisciplinar em psicanálise, vivenciando diariamente a rotina dos pacientes, vi o quanto esse olhar me abriu para compreender cada um que chega com dores por todo corpo; muitas vezes não sabendo nem por onde começar ou sequer explicar como acontece. Ouvia com atenção às queixas de dores de cabeça, no estômago, musculares, ósseas, palpitações, náuseas, coceiras.
Depois apenas uma pergunta " o que está realmente acontecendo com você? "
Após um minuto de hesitação e até espanto, a maioria cai num choro convulso e doloroso.
Deixávamos o choro libertador acontecer e então no lugar das queixas álgicas ouvíamos término de relações, perdas de pessoas queridas, problemas financeiros, medos, angústias e ansiedades.
Novamente lembro-me da frase " quando tudo dói a dor não é física". Não é.
A dor é na alma.
Tudo que nos faz mal e guardamos, por um mecanismo de defesa, vai sair de alguma forma, muitas vezes em forma de doença.
É nosso corpo físico gritando pelo resgate da nossa alma.
É nosso corpo nos confrontando com nosso eu.
É nosso corpo nos mostrando o que não vai bem.
É nosso corpo dizendo " olhe pra você "
Às vezes é difícil compreender e até acreditar nisso.
Normal.
Estamos tão mentais, tão obcecados pela objetividade que só mesmo adoecendo, doendo, machucando é que paramos para valorizar nossas sensações e nos perceber.
Ninguém gosta de sentir dor, ninguém quer adoecer, todo mundo teme se machucar.
Alertas.
Quantos alertas nosso corpo precisa nos enviar para olharmos pra ele, de verdade.
Sejamos mais atentos , gentis e cuidadosos com nosso corpo.
Sejamos mais atentos, generosos e amorosos com nossa alma.
Toda dor é real.
Toda dor é tratável.
Todo corpo deve ser templo.
Toda alma deve ser leve.